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POSSE DE BOLA: A TENDÊNCIA DE SUCESSO DO FUTEBOL MODERNO

Bola no chão, controle sobre o adversário, passes precisos, vitórias, títulos e supremacia. Esses são alguns ingredientes básicos da fórmula de jogo que tem se instalado como base para o bom desenvolvimento do chamado “futebol moderno”.

Aprimorada no passado por algumas seleções que marcaram época, como a famosa Holanda de Cruyff e seu carrossel, porém esquecida devido as extremas alternâncias táticas do imediatismo de resultados, atualmente os principais clubes do mundo que mais têm obtido sucesso no cenário futebolístico possuem uma característica em comum: posse de bola.

Parece óbvio dizer que o time que tiver o maior controle da bola durante uma partida sairá vencedor, mas essa tese vêm provando ser eficaz a cada temporada. Se pensarmos em futebol nos dias de hoje, logo perceberemos que não há mais espaço em campo para quem sabe apenas correr e ter força. É preciso ter muito mais que isso. Saber passar a bola com qualidade, eficácia e, sobretudo, inteligência são preceitos básicos para jogar em alto nível. Além, é claro, de possuir complementos fundamentais como: disciplina tática, versatilidade e técnica.

Nos últimos anos, a soberania mundial do Barcelona foi marcada por sua posse de bola, em certas vezes, até irritante, mas crucial na construção de vitórias que desencadearam títulos e mais títulos na sala de troféus do Camp Nou. Dono de uma filosofia de controle do jogo, o clube catalão preza por este estilo há décadas, que devido ao seu sucesso passou a ser implantado em outros clubes – desde a formação dos jogadores, como é o caso do Bayern de Munique, comandado hoje por Pep Guardiola, ex-jogador e treinador da equipe Blaugrana. Contestado ao ser anunciado pelo clube bávaro em 2013, ainda mais após seu antecessor, Jupp Heyknnes, ter vencido tudo que disputou na temporada, Guardiola chegou como incógnita mas logo tratou de implantar aos poucos sua filosofia na cabeça dos jogadores que, no início, estranharam a maneira de pensar do ex-barcelonista. Após um período rápido de adaptação, atualmente o Bayern é um espelho do Barcelona e ostenta o rótulo, com merecimento, de melhor time do mundo.

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Na última edição da UCL, o Bayern massacrou o Barcelona nas semifinais (Foto: Google)

Durante a partida frente ao Arsenal, ontem, no Emirates, pelas oitavas de final da Champions League, os alemães sofreram uma pequena pressão na primeira etapa, porém após a expulsão do goleiro polonês Szceszny, no segundo tempo os visitantes chegaram a incrível, e histórica, marca de 95% de posse de bola. E mais: Guardiola mexeu muito bem em sua equipe, como de costume, e venceu a peleja pelo placar de 2 a 0 e praticamente encaminhou sua classificação à próxima fase, assim como a equipe de Messi, diante de outro inglês, o Manchester City.

Por incrível que pareça, o Arsenal é o clube que revolucionou o futebol inglês num período recente. Desde 1996 vestindo as cores vermelha e branca, Arsené Wenger é o principal responsável pela mudança radical do modo de se pensar futebol na Terra Da Rainha. No final dos anos 90, os Gunners ganharam enorme destaque, e mais tarde seriam responsáveis por fazer escola com equipes que prezavam pela posse de bola ao invés da destruição e as excessivas jogadas aéreas – característica típica do futebol britânico. O resultado veio de imediato. O clube de Londres faturou inúmeros títulos, consolidando a posse de bola e o futebol bem jogado. Hoje, os tempos são outros. Os títulos sumiram. Mas o estilo de jogo é o mesmo. E o técnico também.

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Desde 1996 no clube, Wenger conquistou 11 troféus com sob o comando do Arsenal (Foto: Daily Mail)

Para encerar o assunto UCL, outras equipes têm se destacado por prezar a posse de bola, como é o caso do Real Madrid, de Carlo Ancelloti, e o PSG, de Lorent Blanc, que possuem jogadores técnicos e filosofias de jogo que passaram por mudanças nas últimas temporadas, que por sinal, não foram tão satisfatórias, especialmente para os merengues.

Fato é que a tônica do momento é ter a bola sempre. Mas como fazer isso? O time do Audax, que disputa o Paulistão-14 por exemplo, provou que é possível. Mesmo sem contar com craques do quilate de Lionel Messi, Xavi, Iniesta, Lahn, Robben, Cristiano Ronaldo e por aí vai… Basta treinar, estudar, se informar e, sobretudo, mudar o pensamento.

O que falta ao futebol brasileiro é se reinventar. Desde treinadores até as federações, entidades, tudo. Não é à toa que atravessamos uma escassez de bons centroavantes e armadores. A crise é completa e está enraizada na fonte. Na base, melhor dizendo. Na formação. O mais impressionante é que nós, brasileiros, sempre jogamos assim, com a bola, com velocidade e inteligência, porém copiamos os europeus, que antes investiam apenas na força. Atualmente, enquanto eles querem cada vez mais estar com a bola, nós se desfazemos dela. O resultado está aí: Espanha protagonista, atual campeã do mundo. Alemanha revolucionária, contando com uma geração que dizem ser a melhor da história e, nós, brasileiros, dependentes do nosso “bom e velho jeito brasileiro de jogar”. “O futebol moleque.” Que de moleque não tem nada.

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Com apenas 5 anos como treinador, Guardiola é considerado um dos principais revolucionários do futebol moderno (Foto: Google)

Mas será mesmo que esse jeito de jogar é páreo para padrões de jogo de outros adversários? A Copa das Confederações costuma enganar.

O MEDO DE PERDER TIRA A VONTADE DE GANHAR

No grande e, sobretudo, aguardado duelo das oitavas de final da atual edição da Uefa Champions League, Manchester City e Barcelona protagonizaram um jogo de opostos no Etihad Stadium, na gelada cidade de Manchester, Inglaterra.

De um lado um clube multicampeão, com história e jogadores brilhantes, sendo a maioria criada em seus quintais e outros buscados pontualmente em grandes centros, como é o caso de Neymar. Do outro, uma equipe tradicional porém recém promovida a protagonista no cenário futebolístico mundial graças aos milionários sheiks, donos do clube – que, desta vez, montaram um dos elencos mais fortes da centenária história dos citizens.

Todo este belo enredo apontava para uma grande partida, afinal a sensação da temporada é o City, que possui um ataque fulminante, que já passou da marca dos cem gols, especialmente atuando como mandante. Entretanto, todas as estatísticas citadas ficaram no papel e não se comprovaram diante dos comandados de Tata Martíno. Sem Aguero, machucado, e adotando uma postura de jogo baseada nos contra-ataques durante quase todo os 90 minutos, o City caiu frente ao tiki-taka catalão e agora vê apenas chances remotas de conseguir uma histórica classificação à próxima fase (esta foi a primeira vez que o clube inglês participou da segunda fase do torneio continental).

Após um primeiro tempo marcado pela igualdade e posse de bola da equipe blaugrana, que pouco assustou a meta de Hart, embora o City tenha sido omisso no ataque, contando apenas com chutes do isolado Negredo, a segunda etapa começou com os visitantes partindo para cima. Logo aos 7 minutos, Busquetes recuperou a pelota de Navas em lance que gerou polêmica – o City reclamou de falta no espanhol -, e lançou rapidamente Iniesta, que achou Lionel Messi em plenas condições entre a desorganizada defesa azul. O argentino dominou e colocou na frente. Demicheles saiu a sua caça e aplicou-lhe um carrinho, acertando sua perna direita. O argentino caiu. O lance gerou polêmica, pois Messi teria sido tocado fora da área. O juiz expulsou o defensor e apitou o pênalti, convertido logo em seguida pelo ex-melhor do mundo. 1-0 Barça.

A partir daí a tônica do embate mudou. O Barcelona dominou as ações e o City que, com 11 jogadores insistia em uma postura pouco insinuante como de costume, se viu em uma sinuca de bico. Pellegrini optou por Nasri e Lescott, nos lugares de Navas e Kolarov. A alteração em nada mudou no panorama do jogo. Os espanhóis continuaram tomando conta da partida, enquanto o City aguardava algum milagre. Embora superior, os espanhóis de tanto ciscar e pouco finalizar, permitiram ao ótimo David Silva criar boas oportunidades aos donos da casa, que chegaram a flertar com o empate.

Durante quase toda a etapa final, Daniel Alves mostrou-se muito à vontade, atuando com grande liberdade às costas do mediano Clichy. E foi por este setor que ele marcou o segundo gol do jogo, após boa trama com Neymar, que entrou aos 30 minutos do 2T, fechando o placar e, quem sabe, selando a classificação catalã às quartas de final.

Agora, apenas um milagre no Camp Nou daqui duas semanas para salvar a equipe inglesa. Time e elenco eles possuem, mas bater o Barcelona em seus domínios não é uma tarefa tão simples assim. A chance de levar um bom placar seria no duelo em casa, mas como já dizia a velha máxima do futebol: o medo de perder tira a vontade de ganhar. Foi assim que o estreante e milionário City encarou o Barcelona.

O goleiro Victor Valdez fica com a bola em meio a confusão na área (Foto: AFP)
O goleiro Victor Valdez fica com a bola em meio a confusão na área durante o duelo entre Manchester City e Barcelona, pela Champions League (Foto: AFP)

A INVERSÃO POLAR DO PLANETA FUTEBOL

O mundo está pasmo com as vitórias acachapantes de Bayern e Dortmund diante dos sempre favoritos de tudo e queridinhos de todos, Barcelona e Real Madrid.

“Imaginem uma épica final entre Barça e Madrid”. “Vamos torcer por essa final históóóórica entre os maiores clubes do mundo”. “Barcelona bla bla bla”. “Real Madrid blo blo blo”.

Foram nítidas as variações de felicidade de muitos dos comandantes das transmissões das pelejas. Conforme os alemães entocavam gol atrás de gol nas estelares metas espanholas, menos efusivos eram os discursos, mais lamentos apareciam e até certo apelo ao “tudo é possível” deu para notar.

De fato, em se tratando de futebol, podemos imaginar que o fortíssimo Real Madrid possa marcar 3X0 no Dortmund em Madrid.  Já o hoje menos espetacular Barcelona, que não anda sabendo muito que fazer com sua sempre decantada posse de bola, não nos dá muita margem para acreditar em uma apoteótica virada diante do poderoso Bayern, ainda que no Camp Nou. O Barcelona de histórias recentes até pode dar algum argumento aos tristonhos de ocasião.

Fato é que estamos diante de uma iminente virada de ciclo, uma cada vez mais evidente inversão polar no planeta pelota. E nem falo da troca do futebol espanhol pelo alemão no trono de grande liga planetária. Falo da troca de patamares entre Bayern e Barcelona, estes sim, muito mais do que Dortmund e Madrid, detentores das atuais e justas alcunhas de grandes times do mundo.

No embalo do espanto pelos feitos dos alemães, veio junto a incredulidade do poderio financeiro e de patamar que atingiu o Bayern. Atual campeão alemão com trocentas rodadas de antecedência e em vias de voltar a disputar mais uma final de Champions League, os bávaros foram direto no quintal do rival de Champions e único hoje capaz de lhe fazer alguma frente nas competições nacionais e lhe arrancou, sem choro e nem vela, sua principal estrela.

Na esteira dos quase 40 mi de euros investidos na contratação de Gotze junto ao Dortmund, vieram as incertezas acerca da tão recitada nova realidade da Bundesliga. Um clube que consegue ir ao hoje maior rival e lhe subtrair seu principal jogador tem tudo para transformar a liga tão bem planejada para ser a melhor do mundo em uma verdade de mão única. E neste caso a comparação com o campeonato espanhol perde força, já que lá ainda existe a polarização do Madrid com o Barcelona. Na Alemanha tudo leva a crer que nem isso irá acontecer.

E isso sem mencionar a (má) intenção do Bayern em fazer nova visitinha em Dortmund e levar para casa o autor dos quatro gols que massacraram o Real Madrid. Na perda de Gotze e Lewandowski o Dortmund encolhe diante do fortalecimento latente do Bayern.

No achincalhamento histórico dos 4X0 diante do Barcelona, percebe-se o encolhimento de todo o planeta futebol diante do novo dândi do esporte Rei. E eu nem mencionei Pep Guardiola.

GOMEZ