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A XENOFOBIA BRASILEIRA QUANTO AO TREINADOR ESTRANGEIRO

Ainda sem treinador, Lúcio, zagueiro e capitão do Palmeiras, deu a entender que não era favorável a chegada de um estrangeiro para comandar a equipe. Os motivos são os de sempre: língua, adapaptação, choque cultural. Causa estranhamento uma declaração dessas. Justamente dele, que viveu sua melhor fase na carreira sob a batuta de José Mourinho e Rafa Benítez, em 2010, defendendo as cores da Inter de Milão. Técnicos que não eram italianos, diga-se.

Cobramos, quase sempre, por uma mudança no cenário futebolístico brasileiro. Principalmente na mentalidade. No modo de se ensinar, enxergar e, principalmente, pensar o jogo. Este, cada vez mais chato e previsível. Parecido em nada com o que um já dia foi. Porém, há ainda uma parcela, assim como o defensor alviverde, que age de má fé. Demonstrando autosuficiência quanto a figura do técnico estrangeiro. Como se tratassemos de alguém que não acompanha e não entende nada do que rola nos gramados tupiniquins. Ao ponto do idioma ser o principal problema. Um dos motivos que alegaram para Guardiola não ser o técnico da seleção após a queda de Mano.

A prova do equívoco é tão gritante que, em 2012, Santos e Palmeiras tentaram a todo custo trazer Marcelo Bielsa. O Verdão ainda insistiu em um novo contato em 2013, para substituir Gilson Kleina, hoje sem clube. No final das contas, o argentino não se acertou com nenhum dos dois, mas surpreendeu jornalistas, imprensa e torcida com o vasto conhecimento que tinha dos clubes daqui. ”El Loco” se destacou por onde passou pela forma inovadora com que armava suas equipes. Outra característica marcante é quanto ao fato de ser um estudioso da bola. Um vencedor.

Acredito que muitos se apegam, ainda, aos insucessos dos gringos que se aventuraram por aqui. Casos mais conhecidos de Daniel Passarela e Jorgi Fossati. Recentemente, o Atlético-PR trouxe dois: o uruguaio Juan Carrasco e o espanhol Miguel Ángel Portugal. Ambos não vingaram. Mas isso não prova nada. A qualidade, sim.

Somos imediatistas. Sendentos por resultados instâneos. Vemos na figura do técnico, muitas vezes, uma espécie de salvador da pátria, ou vilão. Capaz de entrar em campo e resolver, ou não resolver. O reflexo do péssimo panorama está nos números. Estamos em maio e 130 treinadores já perderam o boné Brasil afora.

Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.
Gareca e o desafio de vingar em um grande clube brasileiro.

O mercado nacional de treineiros está escasso. Nomes inflacionados, e de poucos resultados ao longo de suas carreiras, ainda pipocam constantemente por aí. Vivemos um ciclo vicioso. São sempre os mesmos. Com as mesmas ideias. E os mesmos resultados.

Gareca terá no Palmeiras a chance de quebrar um paradigma. De ser a exceção. E chega com bons olhos daqueles que o conhecem. Dirigiu o Vélez Sarsfield por cinco temporadas, nas quais levou a equipe ao tri-campeonato argentino. Não é qualquer um. Nem um superstar da tática.

A impressão, é que alguns brasileiros ainda acham que as cinco estrelas na camisa da CBF ainda significam que somos os melhores. Tanto dentro, quanto fora do campo.

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO

Por motivos alheios à minha vontade, estive longe deste espaço. Saudade de dar meus pitacos. Vamos a eles.

O Corinthians, que estreou de maneira pífia no Campeonato Brasileiro de 2014, num empate sem gols e sem alma contra o Atlético Mineiro, tinha a chance de se redimir diante de sua torcida, na despedida daquela que é e sempre será a sua casa, nosso querido Pacaembu, palco de muitas de nossas conquistas.

saudosa maloca

Confessando ser um torcedor relapso, que há alguns anos não vem frequentando estádios de futebol (que os deuses do futebol, tão cultuados por nosso treinador, sejam complacentes comigo), vou deixar pra falar desta despedida no próximo texto, em que convidei amigos que estiveram presentes na partida de 27 de abril de 2014, diante do Flamengo, para celebrar com sua torcida em seu espaço preferido.

Sendo assim, vou me ater ao jogo:

Com o clima perfeito de festa entre time e torcida, reforçado com a presença de Elias, apresentado ao som de ‘Saudosa Maloca’, não para jogar, mas para estar presente e ser testemunha da grande festa, o time entrou leve em campo, botou pressão, e não demorou quase nada para abrir o placar. Após cobrança de escanteio de Jadson, Guerrero se enrolou com Samir, mas a bola sobrou para Guilherme, que não desperdiçou. Mesmo assim, o primeiro tempo ainda lembrou a fase de escassez de boas jogadas. O momento mais marcante foi aos 43 minutos, quando Léo Moura entrou forte numa jogada e atingiu Petros. Cartão vermelho direto.

Elias esteve por lá.
Elias esteve por lá.

Só que Mano Menezes vem abusando do direito de ser irritante às vezes. O time ficou segurando a bola, sem muitas jogadas pelas laterais, apenas explorando possíveis contra ataques, e o Flamengo dominou a posse de bola, sem que com isso pudesse fazer algo produtivo. Quando explorou um pouco mais o lado esquerdo, até pela ausência de um marcador por ali, o Corinthians fez o seu: Fábio Santos cruzou, Gil concluiu: 2 x 0.

É aquilo: o Corinthians continua forte defensivamente, a dupla Gil-Cléber está muito bem entrosada, Ralf continua fazendo bem o seu papel. O meio de campo vem se acertando com o que tem. Guilherme e Petros suprem o meio de campo enquanto os possíveis titulares Elias e Renato Augusto (este ainda é infelizmente uma incógnita, já que sua situação física não permite ainda uma avaliação técnica). Guerrero vem recuperando o bom futebol aos poucos, embora ainda não esteja marcando gols, que é o que se espera dele. Fagner ainda não fez uma partida digna de nota, mas vem se adaptando. O coletivo do Corinthians está evoluindo, para enfim começar a se pensar em repetir bons momentos de um passado recente. Resta saber se Mano Menezes saberá trabalhar com estas peças para conquistar um título relevante.

E que venha a Arena!*

*O Corinthians pode ter uma segunda ‘despedida’ do Pacaembu, caso não elimine o jogo de volta da Copa do Brasil, contra o Nacional-AM, que tem como principal nome o célebre Carlinhos Bala.

ENSAIO SOBRE A ESCASSEZ

O ano de dois mil e treze deixou um legado para o futebol brasileiro: não só o fato de ter sido marcado por ser um ano em que o principal campeonato acabou como não deveria, confuso e apontando para uma injustiça indefensável (embora o maior prejudicado tenha sua parcela de culpa). O legado maior a ser apontado é o de que foi o ano em que o nível técnico caiu vertiginosamente, o que influirá definitivamente nas contratações dos clubes para este ano que se inicia.

Até o momento, a única grande contratação foi a de Leandro Damião pelo Santos.
Até o momento, a única grande contratação foi a de Leandro Damião pelo Santos.

Senão vejamos: clubes como Corinthians e Santos sofreram no ano passado o que pode ser chamado de ‘desmanche de um homem só’: perderam Paulinho e Neymar, respectivamente, e junto com eles a identidade de times campeões de quase tudo. É certo que ambos não eram exatamente as andorinhas que fizeram verão (mentira: Neymar era sim), mas foram símbolos da destruição do contexto vencedor.

Sem nenhum demérito ao campeão brasileiro, o Cruzeiro, premiado pela estabilidade e pelo bom e paciente trabalho de Marcelo Oliveira, técnico sem as mesmas patentes que os demais popstars dos esquemas táticos. A equipe mineira apostou no entrosamento e na boa fase de um meia que não é exatamente craque, mas fez jogadas e gols bonitos, o pequeno Everton Ribeiro.

Temos então um panorama para dois mil e quatorze: o das contratações difíceis. Os grandes foram embora e tão cedo não voltam. Nos restam os que já foram algo, com ou sem seus méritos, mas que hoje voltaram a ter que provar pra todo mundo que não precisam provar nada pra ninguém, com a licença da citação ao compositor popular. O Santos saiu na frente, trazendo o outrora selecionável Leandro Damião, que vivia um momento um tanto conturbado no Internacional, longe daqueles momentos que o levaram a vestir a camisa amarela da CBF. E como teria conseguido o alvinegro praiano contratar este multiplatinado atleta? Ah, claro: com o apoio de um fundo inglês, o Doyen Sports, representado no Brasil por um nome que causa calafrios em muitos torcedores santistas que têm boa memória e se lembram da malfadada época do patrocínio da Unicor: Renato Duprat, aquele que dirigentes do Corinthians não ousam estender a mão para cumprimentar, por causa da também malfadada época em que foi representante de outro fundo inglês (ao menos oficialmente), a MSI, liderada ou representada por Kia Joorabchiam. O resto da história todos já conhecem. O Timão então, sofre um pouco mais: até o momento só Uendel, lateral esquerdo da Ponte Preta, é nome certo nas contratações, e o time que parecia não precisar de nada no ano passado, campeão de Paulista e Recopa num ano de ressaca de outras comemorações, viu seu barco afundar em maus resultados na competição nacional, desgastando o técnico Tite, que deu lugar a Mano Menezes para tentar recomeçar.

Disputado por São Paulo e Santos, Vargas deve acertar com o Peixe.
Disputado por São Paulo e Santos, Vargas deve acertar com o Peixe.

Pelos lados do Morumbi, o São Paulo trouxe Luís Ricardo, ex-Lusa, para a lateral-direita, e mais ninguém. Perdeu Aloísio para o futebol chinês, e acaba de desistir do atacante chileno Vargas, do Napoli, que estava emprestado ao Grêmio, e interessa ao Santos. O motivo são os valores pedidos. Valores são também o que barra a renovação de Leandro com o Palmeiras, outrora moeda de troca por Barcos, mas que jogou bem na Série B e exige a tal ‘valorização’. Pode ser que volte para o Grêmio. No entanto, o Verdão foi o clube de SP que mais contratou, trazendo também Rodolfo do Rio Claro, França do Hannover (Alemanha), Diogo, ex-Lusa, e o principal, Lúcio, ex-São Paulo. Este último com um retrospecto não muito favorável no último ano, tem a chance de mostrar que ainda tem algum valor. Os demais, por mais que tenham já mostrado algo, especialmente Diogo, são apostas. Além deles, deve chegar Anselmo Ramon, em troca por Luan, que pode continuar no Cruzeiro. Ainda assim, voltando da série inferior, volta a ser um adversário forte, especialmente em seu centenário, com uma dose a mais de motivação, condizente com o nível técnico dos campeonatos, ao menos.

Até o momento, o Corinthians só se acertou com Uendel, ainda não anunciado.
Até o momento, o Corinthians só se acertou com Uendel, ainda não anunciado.

Há a tendência de se procurar heróis no futebol sul-americano, tática que já deu certo com Conca, Montillo, Guiñazu, entre outros, mas não trouxe exatamente um grande craque ao futebol brasileiro, apenas uma pequena ajuda.

Diante disso, e salvo engano do colunista, o ano de dois mil e quatorze, ano de Copa do Mundo jogada no país, tende ao marasmo no futebol regional e nacional. Além do evento maior do futebol mundial, há nos clubes uma tendência em economizar nos orçamentos, seja pra regularizar suas contas, seja pra tentar emplacar seus sucessores nas eleições para a presidência. O que veremos em nossos campeonatos, então? Mais times grandes lutando para não cair? Mais marasmo, com jogos sonolentos?

E finalmente, meus amigos, encerro meu questionamento da mesma forma como iniciei: qual será o legado que o ano da graça de dois mil e quatorze deixará para seu sucessor, além de – suponho eu – belos estádios?

OBRIGAÇÃO E MISSÃO

Não se comemora feitos dentro de obrigações. Comemora-se quando algo além é atingido. Obrigações nós fazemos por ser, como o próprio termo diz, uma obrigação. Muitas vezes não é prazeroso, muitas vezes o fazemos com desdém, sem vontade, sem tesão.

Muitas vezes o que nos é obrigação, para outros é na vida projeção. É horizonte. É norte. É razão. A obrigação que você não cumpre com honra, pode vir a ser tomada por outro que tenha vivido sempre na sua contramão.

Foi prova viva, prova de vida. Às 16:00 horas de São Paulo do 26 de novembro de 2013, no estádio do Pacaembu, foi cumprida mais que uma obrigação, mas a validação de uma retórica de estirpe, de existência. Às 18:00, pouco mais, talvez, 16 milhões que honraram com sua missão ao longo de mais uma temporada de amor e dedicação, puderam enfim, não se sentir de volta ao seu lugar de origem, pois a eles nunca lhe foi negada essa condição, mas respirar e viver a certeza de que voltou o seu Verdão, dentro de regimentos e regimes que lhe impuseram condenação, ostentar o lugar que é seu por sua existência e missão.

PALMEIRAS

É isso o que somos!

O MOVIMENTO É DOS ATLETAS, NÃO DOS OPORTUNISTAS

Quantos mandos e desmandos a CBF, as federações e as emissoras de TV já impuseram aos clubes e jogadores ao longo de todos esses anos e em quantas dessas situações tivemos algum posicionamento contundente de sindicatos e afins?

Muito oba-oba, muito falatório. Mas trabalhar efetivamente para o bem comum, nunca ou quase nunca. Sempre houve também uma nítida desunião da classe, o que só serviu para fortalecer e muitas vezes legitimar as artimanhas dos poderosos.

Agora pela primeira vez na história parece haver um levante de jogadores interessados em bater de frente contra mais uma desfaçatez cebeéfiana. Algo que surgiu em meio ao descontentamento da classe, suprido por uma retórica de jogadores politizados que agregam a essa atual geração de boleiros uma condição poucas vezes percebida por estes campos: a mobilização.

São sabedores de suas condições de impor certos limites, tendo até exemplos de movimentos semelhantes em países vizinhos, que conseguiram mediante a paralisação de suas atividades chegarem a denominadores comuns.

Os nomes estão ai, capitaneados por alguns cabeças de conhecidos posicionamentos contra o establishment. Cabe a eles qualquer louro por uma eventual vitória. Não aos deficitários e inoperantes sindicatos que agora tentam tomar para si a mecânica desse levante.

A sugestão de greve é válida, desde que assimilada e aplicada por quem se uniu por um interesse comum. Nunca por uma manobra oportunista de quem pouco/nada fez ou faz pelo bem do esporte Rei e de seus atletas.

Talvez até pior que a tentativa de tomar para si algo que pertence a um coletivo é a completa omissão dos clubes, cumplices e cordeirinhos de todas essas instituições maléficas.

Não se deixe enganar. Mais uma vez os jogadores estão sozinhos nessa.

AlexJuninhoRogerio-CeniPaulo-Baier-Fotos-LANCEPress_LANIMA20130924_0010_55