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NO BRASIL O FUTEBOL PULSA. O TORCER MINGUA.

Gostar de futebol é uma arte. Gosta-se pelo jogo em si, suas nuances, possibilidades técnicas, táticas, o imponderável, o calculável. As cores pouco importam, o jogar paga o anseio. Mas ser torcedor é outra coisa.

O torcer é um ato de viver, sofrer, subverter, se envolver. Pode-se torcer pelo sucesso pessoal, profissional. Pode-se torcer por um sonho, por um parente em desconforto, por um amigo que clama por socorro. Você torce por aqueles, por aquilo que lhe formou, que lhe fomenta, que não lhe pode ser ausência.

Seja a favor ou contra, o torcer é incalculável. É gratuito, não tem medida. Ele se faz e se sustenta de suas raízes, de sua vivência.

Neste último domingo tivemos clássico. E a obviedade das coisas, da história, deveria apontar para uma conclusão concreta: falamos de Santos X Palmeiras.

Mas não tenha eu a preocupação em esclarecer que este foi o NOSSO clássico e fatalmente teremos conclusões conflitantes com um também clássico, mas não nosso, deles, lá do outro lado do mundo. Que conta sim com suas constelações, atenções, todo um sistema político/ financeiro que sobrepuja tradições.

Acompanhado de bons amigos, fui a um bar na Vila Madalena acompanhar o NOSSO clássico. Cervejas, petiscos, aquela coisa toda. Mesas nas calçadas tomadas aos poucos, pouco antes das 16:00 horas em ponto. Telas de lcd ligadas no plim plim (fazer o que?). E lá estávamos nós, exercendo o salutar ato do torcer. Eu e mais alguns a favor de um, muitos outros a favor do outro. Coisa nossa, coisa gostosa.

O salão interno do bar vazio, meia dúzia de casais aproveitando o tempo frio para se aquecer. O resto todo, numeroso resto, na parte de fora. Até às 17:00 em ponto.

Subitamente as calçadas se esvaziaram. Notei um deslocamento estratégico para a área interna do estabelecimento. Verifiquei também a chegada maciça de novos frequentadores, praticamente se estapeando para conseguir seu lugar ao sol – neste caso uma enorme tela de alta definição que se abriu e reluziu naquele antes escuro salão.

Do lado de fora, no friozinho já pentelho, nossa mesa permanecia sendo a única intacta, com as atenções voltadas para aquela agora minúscula telinha plana e de imagem chuviscada. Os gols do NOSSO clássico, que haviam sido comemorados ou lamentados com muita parcimônia, agora rivalizavam com gritos histéricos do lado de dentro do bar.

Se até às 17:00 Valdívia e Thiago Ribeiro davam o tom do torcer, às 17:01 iniciou-se uma aula do distorcer. Uma horda de “espanhóis” vibrando por CR7 e Messi, no conforto térmico e do atendimento preferencial, vociferando ante aquele espetáculo de cores e estrelas vivas – lá na Espanha, distantes um oceano de diferença histórica, de estranhamento existencial, enquanto aqui – ou lá na calçada – naquele mundinho ainda nosso, vivíamos o estarrecedor e quase estertor ato de viver um torcer por algo que sempre fora nosso, mas que vai ficando cada vez mais sendo apenas nosso mesmo, enquanto ainda vivemos, respiramos e torcemos.

O futebol no Brasil pulsa. O torcer mingua.

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