DO IMAGINÁRIO COLETIVO POVOADO POR CHICO, O SENTIMENTO E OS PERSONAGENS DO DERBI..

Semana de derbi os dias passam arrastados. Trata-se dos poucos períodos do ano em que o domingo é o dia mais aguardado da semana. Os demais períodos são exatamente as semanas que abrigam os outros derbis do ano.

A sexta-feira sempre tão aguardada chegou e logo pela manhã o radinho avisa que o genial Chico Anysio encontrava-se em estado de saúde crítico. Não era apenas mais um dos tantos períodos de internação do maior gênio do humor brasileiro. A sensação, em meio a correria matinal para se aprontar para o trabalho, me permitiu ponderar sobre isso.

Chico era Palmeiras. Diferente de tantos outros clubes pelos quais ele dedicou períodos de paixão, pelo velho Palestra ele dedicou toda a sua vida de torcedor.

A euforia pelo derbi vindouro já contrastava com a quase latente certeza de que o final de semana não seria de riso pleno. De que o riso estaria de luto. O que veio a se confirmar no final da tarde da sexta.

O Brasil perdia 210 cidadãos puramente brasileiros. Chico e mais seus 209 cidadãos brasileiramente caricatos na máxima expressão dos tipos médios formadores de nossa sociedade.

Se tem algo que eu faço muito, só não sei se bem, é pensar. Penso sobre tudo e sobre todos. E dentre minhas retóricas de pensamento está a formação de meu imaginário, que por sua vez pertence a uma coletividade que já adentrou a casa dos 30 anos, mas que em muitos casos abraça muitas outras anteriores a minha.

Chico era uma dessas figuras do imaginário coletivo do qual talvez a minha geração seja a última a pertencer. Chico fora parcialmente esquecido pelo meio que lhe deve tanto, o que resultou em uma nova geração de pessoas já desligadas do conceito do humor sem o preceito da inteligência ante a boçalidade. Alguns que não se impressionavam tanto com personagens que os representava quase que de cabo a rabo.

 

Mas não se trata aqui de uma tentativa de fazer um exercício antropológico para justificar a formação dos novos consumidores do humor, nem bem exaltar o antigo como se não fosse possível o novo reproduzir a qualidade de outrora. Embora nesse caso me pareça ser essa a conclusão.

No lamento da perda de Chico está inserida a minha indignação ante os fins de ciclo. A impertinência da não continuidade do que deveria ser contínuo. Da intransigência a que o fim desses ciclos nos impõe.

Nada de reclamar das leis universais. Só que as mesmas leis me permitiram pensar, ponderar, amar e chorar. E a quebra ou o ponto final colocado nesse meu imaginário de mais de 30 anos me faz trabalhar todos os meus conceitos, embora ao final eu acabe sendo bem fiel a maior parte deles.

O ciclo de Chico terminou quase que paralelamente ao início de um ciclo ao qual tanto ele quanto o restante da coletividade alviverde torce para que seja muito duradouro. O da retomada da razão pela qual o clube fora criado – vencer.

No derbi de hoje houve uma pausa. Justa, diga-se de passagem. E cabível. Se havia que ser alguém a quebrar a invencibilidade do Palmeiras, que fosse então o campeão brasileiro. Que a dureza da rivalidade pese nesse tipo de ponderação seja justa, mas justo é também não achar que tudo feito até agora está errado.

O justo do resultado final poderia ter sido a mesma justiça caso a vitória viesse. Vitória que esteve bem perto de acontecer na 1ª etapa, onde o Palmeiras foi superior ao Corinthians.

Justo como foi a vitória corintiana após uma blitz impressionante nos 10 primeiros minutos da etapa final, onde a virada poderia ter sido inclusive ampliada, mas que não invalidaria a justiça do empate que quase veio na cabeçada de Henrique ao final do jogo.

Quem não merecia levar gols era o “Chico Anysio”, que acabará levando dois, sendo um deles um verdadeiro ultraje, no gol contra de seu personagem “Profeta”.

Merecia que seu “Profº Raimundo” anotasse mais gols além daquele petardo de fora da área. Mas viu nas fracas atuações do “Divino” e do goleador “Pantaleão” a derrocada do seu Palmeiras.

Ao final do fim de semana em que o riso esteve de luto, justiça fora feita no mais amplo dos sentidos. O justo merecimento da homenagem recebida pelo mais brasileiro dos palmeirenses, na estampa das camisas do alviverde e no maior dos clássicos disputado em alto nível.

Bem como altíssimo sempre foi o nível do homenageado.

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