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Café com Leite na Copa: Dinamarca e Holanda

Texto: Beto Almeida
Foto: UOL

– E aí, corinthiano… Vai tomar café mais cedo hoje?
– Pois é, passei a noite sem dormir, não teve jeito, agora é tomar um cafezinho pra ficar acordado e aproveitar o dia.
– Tá saindo, bem quente, que tá muito frio.
– Opa, brigado. Tá frio demais. Eu gosto do calor.
– Eu também, por isso que saí de Portugal e vim pra cá.
– Olha só, vai começar o jogo da Holanda e Dinamarca.
– Vai ser um jogaço, a Holanda ganhou tudo nas eliminatórias européias e a Dinamarca tem um time forte também. O problema da Holanda é que o Robben não vai jogar, tá machucado.
– É, mas eles tem um monte de craques no elenco. Vão passar por cima desses dinamarqueses, cê vai ver. Tô torcendo pra eles, tenho afinidade com o país.
– Eu também, eles são gente boa, todo mundo de laranja, é a camisa mais bonita, depois de Portugal.
– Ih, rapaz… Esse jogo tá muito amarrado no meio de campo, a Holanda não tá bem não…
– Verdade, a Dinamarca até tá encaixando uns contra-ataques nos caras.
– Acabou o primeiro tempo… Vamos ver se o técnico holandês muda o time no intervalo.
– A Dinamarca tem uns caras grandões, é difícil fazer gols nos caras.
– Ah, lá… Vai começar o segundo tempo, droga, vou ter de ir no banheiro…
– Vai lá, toma a chave.
– E aí, que aconteceu?
– Saiu o gol da Holanda, o Van Persie chegou na linha de fundo e cruzou na área, o zagueirão dinamarquês foi tirar de cabeça e fez contra.
– Caraca! Eu tava secando os laranjas…
– É, mas agora só dá Holanda, pressão total em cima deles.
– Pois é, tá demorando pra sair o segundo.
– O técnico holandês vai mudar… Tirou o Van der Vaart e colocou o Elia. O comentarista não gostou da mudança, não.
– Relaxa, esses caras só falam besteira. Aposto que ele vai arrebentar.
– É mesmo, o moleque é ligeiro, dribla todo mundo.
– Pô, essas vuvuzelas enchem o saco.
– É mesmo, não sei como eles agüentam esse barulho.
– Olha só o lançamento do Sneidjer pro Elia, ele vai fazer… Tocou na saída do goleiro, bateu na trave! O Kuit pegou o rebote, é GOOOOL!
– Agora já era, tá no final da partida.
– Pô, foi um jogaço, bem movimentado. A Holanda mandou muito bem, passou pelo adversário mais difícil.
– Eu acho que eles vão pegar o Brasil mais pra frente…
– Clássico das Copas. Eles são fregueses da gente.
– Eu torço pra Portugal.
– Ah, é.

Café com Leite na Copa: África do Sul x México

Texto: Beto Almeida
Foto: EFE

A real é essa: acho Copa do Mundo um tremendo pé no meu saco, apertando bem forte, nessa época não se fala de outra coisa em tudo que é canal, jornal e revista, mesa de boteco e balcão de padaria, que joça, os israelenses fuzilando uma flotilha humanitária e um vazamento de petróleo que dura mais de mês, mas qual o quê, todo mundo quer é saber da Jabulani e duma discussão entre dois jogadores na seleção canarinho.
Pois é, a Copa pauta o mundo, e nós, esse imenso rebanho bovino global, temos de comer o capim que entregam pra gente, comigo não é diferente, embarco nesse navio, munido da minha vuvuzela, que não preciso explicar o que é, todo mundo já sabe, nessa altura dos acontecimentos.
O mais bacana é que essa nação de chuteiras pára para (sei que é feio, mas sempre quis escrever isso) ver os jogos do Brasil, alguns assistem os jogos com os colegas de trabalho, e até com o chefe, pasmem!, não pode nem gritar e falar palavrão, aquela espontaneidade toda, que maravilha.
E cá no blog me coube a tarefa de escrever sobre o primeiro dia dos jogos, não adianta convencer a chefia do contrário, me tira dessa, não tem jeito, é a maior Copa de todos os tempos e tal, beleza, tomo um anti-alérgico e encaro o desafio, que também sou feroz.
Então vamos lá, África do Sul e México fazem o jogo de abertura, o estádio “Soccer City” de Joanesburgo lotado, pô, tem de falar pros sul-africanos que “soccer” é coisa de quem não sabe nada de bola, já queimaram o filme monstro nessa, é “football” galera, ou “calccio”, como dizem os italianos, podem escolher.
Mas divago, a torcida faz a maior festa, eles são animados, tocando aquelas porcarias de vuvuzelas que fazem um barulho irritante do caramba, a minha cabeça parece que vai explodir, imagina quem tava lá, então vejo a seleção sul-africana entrando em campo, cantando e dançando, pronto, me ganharam, sou facinho mesmo.
Começa o jogo, o México vai pra cima, correndo como pra atravessar a fronteira, os africanos conseguem segurar os caras, acaba o primeiro tempo sem gols, ou outros fatos relevantes.
Meu coração tá dividido, a África do Sul de Miriam Makeba e seu “Pata Pata”, do Mandela, da luta contra o apartheid, os caras merecem uma alegria, e os nossos irmãos mexicanos, dos mariachis, de Zapata, de Chiapas, do Trio Los Panchos e do Chaves, sim, latino-americanos como nós, tô torcendo prum empate.
Começa o segundo tempo, os Bafana Bafana (nessa altura dos acontecimentos todo mundo sabe o que isso quer dizer) marcam o primeiro gol dessa Copa, com Tshabalala, o craque da camisa 8, eleito melhor jogador da partida.
Mas os mexicanos não se entregam, os caras são descedentes de guerreiros maias e astecas, também têm história, chegam ao empate com Rafa Marques, pouco depois. E é isso, o jogo acaba, deu empate, tô feliz.
Mas tristeza não tem fim, felicidade sim, então me toco que mais tarde vou ter de assistir mais um jogo da Copa, França e Uruguai. Mas essa é outra história, pra outra coluna.
Olha só a Miriam Makeba, saudade dela.
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E o Trio Los Panchos, puta coisa linda.
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Café com Leite: Das coincidências e coisas semelhantes

Texto: Beto Almeida
Foto: Lancenet!

E o Todo-Poderoso foi ao Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, jogar contra o Botafogo, também conhecido como “Glorioso”, mais por conta das glórias passadas do que das recentes, ou seja, uma espécie de Santos carioca. Se o Peixe teve Pelé, o Glorioso teve Garrincha, um é atual campeão carioca, o outro atual campeão paulista, e ambos jogam pro gasto.
O Corinthians entrou em campo com a mesma formação do jogo passado, que me parece a ideal pro momento, já que não podemos contar com Ronaldo, Chicão, Alessandro e Jorge Henrique. Tudo bem, nosso elenco é bom, tá sobrando boleiro no time. O Botafogo também entrou desfalcado de alguns jogadores, mas o que me preocupava era a presença de Herrera e Fábio Ferreira, ex-corintianos. Todo ex é um pé no saco, já disse Antonio Fagundes, na certa esses caras iam jogar com vontade redobrada contra o Timão, aquela coisa de afrontar uma paixão que nunca se esquece. É o futebol imitando a vida, que poético.
E o jogo começou equilibrado, as defesas prevalecendo sobre os ataques, que não conseguiam chegar ao gol adversário. Até que aos 30 minutos Bruno César, o sósia do Tevez, abre o marcador para o Timão, com um golaço! Tá jogando muita bola o garoto, três gols em quatro jogos, semelhante ao astro argentino no futebol bonito e na cara feia. Isso aí Brunão, continua assim, a Fiel agradece.
Aí foi só trocar passes até o final do primeiro tempo. O Botafogo até chegou a assustar com uma bola na trave, mas tudo bem. Fomos pro vestiário com a vantagem no placar, e aproveito a pausa pra comentar as possíveis saídas de Dentinho e Elias para a Europa depois da Copa. O time vai sentir demais a ausências desses dois craques. Parece que a intenção do Mano é substituí-los por Defederico e Paulinho. A verdade é que o argentino tá devendo e Paulinho ainda é uma incógnita, temos de ficar espertos pro segundo semestre. Então é aproveitar esses 40 dias de intervalo por causa da Copa e mandar ver nos treinamentos com esses dois aí, o Defederico joga muito e pode substituir o Dentinho à altura, o Paulinho pode se revelar craque. Vamos ver.
Terminada a brilhante análise acima, voltamos ao segundo tempo da partida. Que começa com Defederico no lugar de Dentinho, que saiu machucado, e o Botafogo partindo pra cima, fazendo um gol logo aos dois minutos, igualando o score (nós corintianos gostamos de usar uma linguagem sofisticada de vez em quando).
O gol deve ter assustado Mano Menezes, que resolveu tirar o Danilo, que não tava jogando nada mesmo, e colocar Paulinho pra reforçar a marcação. Pô, Mano! Você acha que o empate tá bom? Desse jeito vamos tomar mais um… E tomamos, num contra-ataque bem articulado dos alvinegros cariocas, virando o jogo pro lado deles.
Aí o treinador corintiano se ligou que a vaca tava indo pro brejo e resolveu tirar o Ralf, que não era o mesmo dos últimos jogos, e pôr Tcheco em campo, pra ganhar mais movimentação e posse de bola. Mr. Joel Santana, técnico do Botafogo, resolve imitar o estilo gaúcho do Mano e fecha mais o meio de campo. Que mané, não percebeu que o Timão levou um gol por conta disso? A vida é repleta de coincidências.
Dito e feito, aos 45 minutos Roberto Carlos manda um golaço e empata a partida. Mas não valeu! O juizão deu uma falta de Iarley no lance, que só ele viu. O cara devia estar numa realidade paralela, não é possível. E ainda temos de agüentar os chorões dos times adversários falando que os árbitros ajudam a gente.
Mas aqui é Corinthians, ninguém vai ficar chorando e reclamando de juiz, bola pra frente que tem mais três minutos, dá pra fazer mais um. E dá mesmo: no último minuto da partida, Paulo André marca de cabeça, em cobrança de escanteio realizada por Defederico. Pode soltar os rojões, pular, gritar e amolar o vizinho palmeirense, conseguimos o empate, continuamos invencíveis e liderando o campeonato. Vai, Corinthians!
É isso, não vemos ninguém à nossa frente. Dividimos a liderança com o Ceará, a surpresa do campeonato, com a mesma pontuação. Nossa vantagem é no saldo de gols. E olha só: pegamos os caras na volta do campeonato. A vida é repleta de coincidências. Mesmo.
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Café com Leite: Cotidiano

Texto: Beto Almeida
Foto: Junior Lago (para o Lancenet!)

Pois é, o barato de jogar com o Inter de Porto Alegre é isso: dá pra escrever a coluna antes do jogo porque é bicho garantido, e a gente trata bem o freguês, o mesmo serviço que entregamos pro São Paulo; ganhamos mais uma vez, é aquela vida cotidiana, a feijoada da quarta-feira, parece um casamento.
E lá vão os chorolados fazer o trivial, que é reclamar do juiz e dizer que a CBF armou o campeonato pro Corinthians ser campeão no ano do centenário. Essa é a vida mundana, tudo previsível, mas até existem casamentos felizes, daqueles de acordar a mulher com beijinhos e fazer o café da manhã, todo sorrisos, que até mesmo o habitual dá pra fazer diferente. Da minha parte, também faço o mesmo, dar o serviço e descrever a partida, que começa com o Pacaembu lotado, sem novidade.
Que aparece na escalação do Timão, com Paulo André e Iarley nos lugares de Chicão e Jorge Henrique, machucados, e a manutenção do esquema com dois armadores no meio, dando maior poder ofensivo à equipe. Parece que Mano Menezes enfim acordou, deixou a retranca de lado, que isso é coisa de time gaúcho.
Porque gaúcho só faz bonito em campeonato de Miss Brasil, bola não é a praia deles, vez em quando um Falcão e Ronaldinho aparecem, uma farofa naquele churrasco que é o futebol de marcação e chuveirinho na área, característica dos gaudérios, sequiosos da tradição.
E o jogo começa com o Internacional pressionando, o que não assusta ninguém, não dá pra levar a sério um adversário cuja torcida entoa um hino baseado na música “Brasília Amarela” dos Mamonas Assassinas, é muito feio, não à toa gaúcho virou gênero de piada, quéisso. Aos 24 minutos Andrezinho chuta pro gol, obrigando nosso goleiro a fazer boa defesa, o Felipe tá voando, a galera aplaude.
Eis que a vida segue o curso normal, aos 37 Sorondo derruba Danilo na área, é pênalti. O xará do Rei faz a cobrança, todo mundo espera uma bomba, que nada, o goleirão colorado chega a tocar na bola que caprichosamente corre de mansinho pra dentro do gol, a explosão veio das arquibancadas. Vai, Corinthians!
E o Corinthians vai, pro vestiário, acaba o primeiro tempo, temos a vantagem no marcador. Pausa pra pipoca e refrigerante, é nóis.
Começa o segundo tempo, e logo aos 8 minutos Iarley faz o segundo gol do Todo Poderoso, em ótimo passe de Elias que o encontrou livre dentro da área, aí é correr pra torcida que grita e pula ensandecida, o show costumeiro.
Aí foi aquilo, o Mano tira Bruno César e coloca Paulinho pra reforçar a marcação no meio-campo, o cara tem essa mania, fazer o quê?, e substitui Dentinho, que tava cansado, por Defederico. Mas as favas já estavam contadas, donde menos se espera é que não sai nada mesmo. Os colorados até que tentaram, Alecsandro cabeceia uma bola, nosso goleirão voador toca nela, que bate na trave em seguida. Os orixás tão ali pra isso, proteger nosso bom baiano, mandou muito o Felipe, que gosta duma mandinga.
É isso, o jogo acaba com a torcida gritando olé, ao freguês resta chorar na volta pra Porto Alegre, e eu que não vou escrever muito no feriado, também cá tenho minha vida pedestre, quero aproveitar um pouquinho.
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Café com Leite: Professores de História

Texto: Beto Almeida
Foto: Tom Dib (para o Lancenet!)

E domingão teve sardinha no menu, aquele trivial que todo corintiano está acostumado a degustar quando joga contra o time da Baixada, com direito a goleada e show de dança do escrete mosqueteiro, que jogou o verdadeiro futebol bailarino.
Senti que as coisas iam dar certo logo pela manhã, o dia estava lindo, inspirador mesmo, atraindo aquelas boas energias para o meu lado. E as coisas só melhoraram quando o Todo-Poderoso anunciou sua escalação para o início da partida: Mano Menezes teve uma iluminação e resolveu sair jogando com dois armadores no meio de campo, Danilo e Bruno César (!), em lugar daqueles três volantes que estávamos habituados. Vai ver ele também acordou inspirado como eu.
A verdade é que demorou pro comandante da nossa esquadra fazer isso. Com o elenco que o Timão tem, não é preciso ter medo desses times da moda. A nossa camisa tem história, nossa torcida impõe o medo, ainda mais num bando de moleques. E foi com esse espírito que iniciamos a peleja, partindo pra cima e dominando as ações do jogo.
E foi nessa toada que logo aos dois minutos o Corinthians abriu o marcador: Bruno César, que semana passada estaria no banco, chutou de fora da área, o goleiro peixeiro, abalado pelo Pacaembu quase lotado, soltou a bola nos pés de Jorge Henrique, o Baixinho Onipresente, que está em todos os lugares do campo. Aí é caixa, contabiliza o 1 x 0 e manda um torpedo pruma viúva do Pelé.
E a aula de História pros meninos da vila continuava… O professor Roberto Carlos cruza uma bola na cabeça do Onipresente, por capricho da natureza, bateu na trave. Uuuuuuuu… É nóis.
Mas é aquilo: o Corinthians sai na frente e depois relaxa. O time teve um branco e permitiu ao Santos ter a posse de bola. Que vacilo, os caiçaras partiram pro ataque e começaram a sufocar nossa equipe, até que Marquinhos, melhor jogador do Santos em campo, fez um gol. O juiz não validou o lance, marcando impedimento.
Aí começou a choradeira santista, com jogador indo pro vestiário falando de complô da arbitragem para favorecer o Corinthians. Bullshit, o jogador tava impedido mesmo, e o lance era difícil. Aquela coisa de negar a realidade quando ela é desfavorável. E pautar a imprensa para o resto da semana.
Começa o segundo tempo com o time praiano melhor em campo, tanto que aos sete minutos André empata o jogo. Então, o erro fatal – a molecada da vila comemora com uma dancinha ridícula na frente da maior torcida do mundo. Aqui ninguém leva desaforo pra casa. O sangue ferve, os ânimos se acirram. O Todo-Poderoso se transforma: parece o exército grego pronto para devastar Tróia.
O castigo foi cruel. Em menos de um minuto Bruno César, futuro camisa 10 da seleção brasileira, anota o segundo gol corintiano. A massa delira, eu também. Mas ainda é pouco para tamanha afronta. Queremos mais, podemos e teremos. Porque somos melhores, somos Corinthians, uma religião ludopédica.
Ficou claro que de Moby Dick aquela baleia não tinha nada. Para você ter uma idéia de como a coisa ficou feia pro lados dos sardinhas: o Ralf, quem diria, fez jogada de craque e marcou um golaço. É impressionante como evoluiu o futebol deste garoto. Ele anulou o Neymar (quem?) que teve de sair mais cedo pra chorar no vestiário. O incensado Ganso (quem?) não deu as caras na partida, dando munição pro Dunga justificar a não convocação deles pra Copa. Coisa que Roberto Carlos não fez. Em excelente cruzamento pela esquerda, o xará do Rei serve uma bola na cabeça de Paulinho, que marca o quarto gol corintiano, encerrando a pescaria.
Magnânimo, o Timão permitiu aos caiçaras o segundo gol no final da partida. Coisas de professores de História, passando a mão na cabeça dos meninos que aprenderam uma baita lição.