Arquivo da categoria: Bixxxcoito Carioca

O futebol carioca e a boemia na Cidade Maravilhosa

O fim de uma era.

 

Acabou. O final de uma relação que teria tudo para ser um eterno casamento, repleto de alegrias entre Muricy Ramalho e Fluminense, acabou. O técnico, quatro vezes campeão brasileiro, merecia mais, a começar pela sua exigência que o fez entrar no salão nobre das Laranjeiras e botar o boné em sua primeira coletiva como treinador do clube: estrutura. Infelizmente não foi só isso, foram muitas águas que rolaram para chegar a esta decisão.

A falta de estrutura do clube não é de agora, Muricy pegou um campo de várzea, a verdade tem de ser dita, não há condição alguma para ter um treinamento decente, logo os jogadores se machucam constantemente, temos casos como Deco e Fred que fizeram do departamento médico a segunda casa, um clube centenário e cheio de glórias históricas como o próprio presidente do clube enumerou em sua coletiva após perder o melhor técnico que o clube tivera nos últimos anos, não pode também ter um vestiário de quinta, muito menos não ter uma piscina decente para a recuperação dos jogadores, tendo que buscar academias para tal atividade. O clube precisa se estruturar urgentemente e era esse o ponto que Muricy estava batendo e que, segundo o próprio, não mudou absolutamente nada.

O outro ponto que desgastou o treinador foram as mudanças feitas dentro do Fluminense, o novo presidente, Peter Simesen que está há apenas dois meses no cargo mexeu em alguns aspectos que não agradaram o ex-treinador como a mudança na assessoria de imprensa, a demissão de Alcides Antunes que era o vice de futebol e tinha uma relação de confiança, não só com Muricy, mas com os próprios jogadores, isso também foi totalmente desgastante e crucial para a decisão tomada pelo técnico quatro vezes campeão brasileiro.

Resta nesse momento lamentar o rumo que as coisas tomaram. Perder o grande responsável pela conquista tão sonhada há 26 anos por descaso em não dar uma melhor estrutura, também por questões políticas que atrapalharam o andamento de todo um planejamento, porque cá entre nós, não é a toa que o time está tão mal nesse início de temporada, podendo piorar com uma eliminação precoce na Libertadores.  Toda essa confusão pelo visto não mexeu somente com o treinador, mas com um grupo que estava na mão do Muricy, que agora está com o pé atrás com estas mudanças e sem o comandante que era tão querido, tentaram  inclusive dentro do vestiário após o Fla x Flu  convence-lo de ficar.

Que o Cristo Redentor que olha sempre para o Fluminense tire essa nuvem negra instalada nas Laranjeiras.

 

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=oh86LC5ZaGs[/youtube]

RISADAS E MAIS RISADAS

Mais uma sexta, o agito após o trabalho, na ‘mesinha’ que é a caixa onde se guardam os cascos de cerveja, lá se encontram Arthur, Manoel e Paulinho. O primeiro olha logo que o botafoguense chega ao bar:

Arthur: Olha aí, não adianta superstição, macumba, mandiga e o que mais vocês são adeptos, nós ganhamos mais uma vez! A freguesia agradece….

Manoel: Meu amigo, o que fico mais fulo da vida é o Joel falar que pênalti é loteria, ele é um fanfarrão, então porque nego treina essa merda?! Mas não acabou, sabe que a Taça Rio será nossa e novamente vamos decidir, tu vai ver só…

Arthur: Tomara, porque se depender dos tricoletes e da bacalhoada será mais uma vez uma final entre nós, aliás temos que passar pelo Boavista, tu viu o que eles fizeram com o tal campeão brasileiro?

Paulinho:  Rapá, o Fluminense massacrou o Boavista, timeco que ficava de cai-cai, tudo bem, teve um golaço deles e outro que mais uma vez nossa defesa falhou, que enganação, pensar ter sido essa a melhor zaga do brasileiro em que fomos campeões…E depois nós sabemos que ultimamente pênaltis é uma coisa nada boa para o flu…

Arthur: Nem para o foguinho…

Manoel: Ainda vai ser eliminado na primeira fase da Libertadores, pelo mesmo América do México que eliminou certos times anos atrás….

Paulinho: Isso é recalque! Vocês não tem capacidade para chegar em uma Libertadores e ficam botando banca só porque ganham um estadual, pense meu querido, nunca serão! Mas aí, se não contratar um zagueiro melhor e Emerson não voltar logo, sei não…Fred se machuca toda hora, uma pena, o He-Man não é apenas um bom banco que tem dado conta do recado, mas….

Arthur: E o Deco?

Paulinho: Quase na mesma situação da sua estrela, não apareceu ainda…A diferença que fica volta e meia no estaleiro…

Manoel: Ih, olha quem tá chegando…

 

Sorriso de ponta a ponta, Roberto com sua camisa do vasco de 1992, com a número 10 do saudoso Bebeto entra no recinto, cumprimenta os amigos, avista Seu Geraldo:

Roberto (grita): Ô sangue bom, me bota mais uma ampola aqui para o time que só goleia!

Seu Geraldo: Meu time ressuscita morto, é impressionante!

Roberto: Pode deixar que o Fluminense vai dar muitas alegrias a vocês…

Paulinho: Por que o Fluminense, rapaz?

Roberto: Simples, o menguinho vai dar alegrias para o povo de Saquarema nessa final da Taça Guanabara, o fogo de palha mais uma vez vai dar mais alegria ainda para um River Plate, mesmo que seja genérico e só restou o Fluminense, se bem que esse vai fazer alegria internacional, né….ha ha ha!

Paulinho: Vão secando mesmo, bando de arco-íris….

Arthur: Falar na turma do arco-íris…Vocês estão quebrando os dentinhos pelo nosso campeonato agora reconhecido! Se bem que já sabia mesmo…Vai mengão!

Paulinho: Eu sempre achei vocês campeões de 87, o problema que toda essa história foi resolvida da forma mais política, ia achar muito legal se a patricinha da gávea mandasse na cara do Ricardo Teixeira “ obrigado pelo reconhecimento, mas não vou fechar com vocês!”, óbvio que foi para atrair o Flamengo para o lado da CBF, triste isso.

Manoel: Geral saindo do Clube dos Treze…

Roberto: Podem não, rapá, você viu que a dívida dos quatro grandes é de 60 pilas? Nego acha que saindo dos treze vai ter mais liberdade para negociar, vão é tomar cano…

Arthur: Podem falar dessa baboseira de politicagem, mas o mengão tá aí, hexa na raça! E vamos tomar a Taça das Bolinhas que estão com aqueles são-paulinos, tu viu como aquele presidente deles é fanfarrão?

Manoel: Por mim essa Taça poderiam dar um sumiço e todo mundo ficar chupando dedo, que polêmica mais sem graça…

Roberto: Concordo.

Paulinho: Onde assino?

Arthur: Falar em concordar, vambora fazer nosso palpitão para a final da Taça Guanabara!  Deixa eu começar porque estou na final, né. Vai ser 3 a 0 mengão, sem dó nem piedade, com show de Ronaldinho!

Paulinho: Jogo duro, sei não, vai ser um dia bem igual aquele que perderam para aquele time do ABC paulista, lembra?  Clima de festinha animada, hino do clube nas alturas…Ronaldinho não mostrando ao que veio, zaga estranha, timezinho do Boavista na retranca marota, surge uma bola vadia e gol…Vai ser 1 a 0 Boavista.

Manoel: Acho que esse jogo vai para os pênaltis e o Flamengo leva, aquele Felipe pega bem .

Roberto: 3 a 1 Boavista, de virada! Com gol do Ronaldinho para os desdentados ficarem achando que vai ser fácil, mas no segundo tempo será ‘créééééu’ !!!

Arthur: O que esperar de vocês, né? O único que fechou foi o botafoguense, mas compreendo, é freguês, sabe como é essa coisa de pênalti, sabe como o Flamengo cresce nessas horas. Agora é a vez de quem para pegar a gelada?

Seu Geraldo aparece de surpresa no meio dos amigos, com uma garrafa de cerveja na mão.

Seu Geraldo: Tá aqui, gelada! Deixa dar meu palpite?

Arthur: Mas é claro, chefe!

Seu Geraldo: 4 a 0 Boavista!

Roberto, Manoel e Paulinho gargalham.

Arthur: Mas que isso, quanto ódio no coração.

Seu Geraldo: Garoto, como dizia meu saudoso pai “se o Flamengo jogar no inferno, vou torcer para o time dos capetas!!!”

Risadas e mais risadas.

PRIMEIRO CONTO

Seu Geraldo tem um bar em um bairro boêmio do Rio de Janeiro, daqueles bem comuns, aconchegante para os transeuntes e também para os boêmios. Foi sua herança, deixada pelo pai. Este botequim (como seu velho dizia em alto e bom som) abriga um grupo de quatro amigos, cada um deles torcendo para um time grande, amigos de infância, prometeram que dariam o nome dos filhos de forma bem especial.

O primeiro rebento ao nascer foi um tricolor, e se chama Paulo Roberto! O pai, um tricolor daqueles ferrenhos, fez uma dupla homenagem, o Paulo é vindo do saudoso Paulo Cesar Caju, já Roberto veio por causa do mestre (como ele mesmo costuma vociferar nas calorosas discussões sobre o futebol, quando remetem ao passado) Rivellino.

O segundo a nascer foi o botafoguense e este ganhou o nome de Manoel, poucos sabem, até mesmo muitos alvinegros desconhecem que este nome era o de Garrincha!

Já o terceiro veio cheio de calorosas comemorações, afinal disse o pai assim que nasceu “É o melhor do mundo! É o melhor do mundo!”, assim surgiu Arthur, nem precisamos tecer mais comentários e tentar descobrir de quem se trata esse “melhor do mundo”.

Por último veio o vascaíno, houve até uma polêmica, pois o tricolor falou que mais um Roberto não, mas teve jeito? O pai foi como uma dinamite para o cartório registrar o pequeno já com a camisa cruzmaltina.

Para não dar mais confusão do que já dera, Paulo Roberto ficou conhecido como Paulinho por todos.

Assim surgem esses quatro amigos, vindo de quatro pais fanáticos por futebol e estes são os mais recentes frequentadores do ‘botequim do seu Geraldo’, como é carinhosamente chamado no bairro. Aliás, Seu Geraldo é torcedor do América, hoje diz que sua grande alegria é o bar, já que se tivesse de voltar ao tempo, pararia nos nove anos e não pensaria jamais em mudar de clube, como o fez. Como ele mesmo diz “não tem jeito, tá no sangue, foi aquele brilho nos olhos quando vi o time campeão carioca frente ao Fluminense”. Relata emocionado pela lembrança inesquecível.

Estes são personagens, entre outros que frequentam o “Boteco Carioca” ou melhor, como já disse o “botequim do Seu Geraldo”, lá se pendura até conta, menos chuteiras e copos vazios. Mas vamos aos fatos acontecidos nos últimos dias…

Final de tarde, lá estavam Paulinho e Arthur  esperando o sempre atrasado Manoel, lá bebericavam uma boa cerveja gelada, depois do expediente, ali mesmo na calçada, já tinham o lugar marcado, com a caixa de engradado servindo como mesa e os três em pé.

 

Arthur: Fizeram de tudo para fugir de nós, heim…

Paulinho: Rapaz, na final é mais gostoso, a torcida inteira do Flamengo sabe como é…

Arthur: Pior que tenho uma bolação com esse teu time, vocês se dão bem mesmo em finais… Mas olha, é Taça Guanabara só, apenas um aperitivo para o show do Ronaldinho!

Paulinho: O maluco fez quatro jogos e fez o quê? Nem contra o Murici lá de não sei de onde conseguiu muita coisa, acho que é mal do nome do time que pegaram nessa copinha aí…

Arthur: Rapá, ele fez gol, quero ele jogando bonito não, senão sabe como é, vai ser um esculacho!

Paulinho: Aliás, mudando de pato pra ganso, cadê esses caras, heim?

Arthur: Ah, não ficou sabendo? Liguei para o Manoel mil vezes, não atendeu…

Paulinho: Entendi, ele tá fazendo a tática do ano passado, quando no último jogo entre vocês ficou uma semana sem falar com você, para ver se dava Botafogo… Ih, então ele nem vem.

Chega Roberto, com um sorriso de ponta a ponta, olha seu Geraldo e pergunta.

Roberto: ô mestre boêmia… Quanto tá pendurado na minha conta mesmo? (solta um pequeno riso no canto da boca)

Seu Geraldo olha com cara de poucos amigos e não o responde.

Paulinho: Ô, quanto tu tá devendo?

Roberto: Nove reais!

Os três caem na gargalhada. Seu Geraldo com uma vassoura na mão começa varrer em direção deles.

Arthur: Ô tio, para com isso!  Só nove reais…

E mais gargalhadas.

E uma pausa como se o mundo parasse para aquele momento. Anda em direção ao bar uma belíssima garota, cabelos lisos, loiros, com um vestidinho e salto, entra no bar. Pronto, tudo volta ao normal, as pessoas falando, os carros andando, até o gato do Seu Geraldo voltando a dormir. Roberto se afasta de Paulinho e Arthur.

Roberto: Aí, tricolor, tu prefere o Fred levantando taça ou o telefone dela?

Paulinho: Claro que o telefone dela, afinal eu já vi meu time ganhar ano passado…

Arthur: Eu também, tô tranquilo de títulos.

E risadas pontuando o cair da tarde. Surge um silêncio e Roberto se aproxima de Arthur e Paulinho.

Roberto: Pensando bem… Acho que prefiro um título… (falando baixinho)

Silêncio sepulcral e uma leve risadinha de seu Geraldo.

 

O Futebol