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A CRISE DO FUTEBOL BRASILEIRO É A CRISE DO SEU TIME

A crise do futebol brasileiro respinga nas fracas atuações dos clubes (Sérgio Lima /Folhapress)
A crise do futebol brasileiro respinga nas fracas atuações dos clubes (Sérgio Lima /Folhapress)

Virou o ano e o meu favorito à conquista da Libertadores era o São Paulo. Vice-campeão brasileiro, elenco forte, reforçado – de acordo com a ótica da diretoria, é bom lembrar -, renovação do M1to Rogério Ceni, etc. Definitivamente, o torcedor encontrava motivos reais para estar empolgado. Além disso, Muricy tinha o time, literalmente, nas mãos. A expectativa, como deveria de ser, era grande. Como é o SPFC.

Começou a temporada e o Tricolor levou logo de cara uma traulitada do arquirrival Corinthians, em Itaquera. Como era de se esperar, surgiram inúmeras críticas. Imprensa, torcida, bastidores. Todos estavam sedentos em saber o que havia acontecido. Aliás, ainda estão!

Não sou desses, mas o cenário no Morumbi é de crise. O ambiente é tenso. E para os nossos padrões (na qual eu não concordo, mas existem, explicarei logo abaixo), para a nossa cultura, era óbvio que aconteceria isso. O clube não consegue apresentar um futebol confiável na principal competição da temporada. Seu camisa 10 simplesmente caminha em campo. Já o técnico, está perdido, sem saber o que fazer, enquanto outros jogadores ficam sobrecarregados, casos de Michel Bastos.

Mesmo diante de todo este cenário caótico, ainda há chances reais de classificação na Libertadores. O Paulista já está garantido.

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Ganso ainda deve futebol à torcida do São Paulo (Foto: Google)

Eu fui um dos que defendeu a ideia de crise no São Paulo após a derrota para o Palmeiras, no Allianz Parque, por 3 a 0. Não pelo jogo. Mas pela moral baixa. Não pelo alarde de parte da imprensa. Mas sim, pelo futebol apresentado. Ou pela falta dele. Ou, talvez, a coletiva do Muricy, sintomática naquela noite. O clube está, sim, em crise. Uma crise institucional. Crise tática. Até discuti com alguns amigos são-paulinos que afirmavam ser impossível um time que ocupa o segundo lugar de um dos grupos mais difíceis da principal competição da América do Sul, estar em crise. Sim, está.

Chegaram até a dizer que eu estava embarcando no imediatismo pregado pela chamada “imprensa marrom”, que, muitas vezes, supervaloriza fragmentos de declarações ou partes de uma partida para espetacularizar e deturpar um fato em benefício que vise aumentar a audiência de seu programa, site ou blog. Nunca foi essa a minha intenção. Nunca será.

Tostão publicou dia desses, em sua coluna na Folha de S.Paulo, que as críticas à equipe do Morumbi eram excessivas e além da conta. Até pode ser, sobretudo, se olharmos sob a ótica de que todos os times grandes do Brasil estão nivelados por baixo. E não é de hoje. Até porque, dos 5 melhores do ano passado, apenas o Corinthians, que não é espetacular, mas está mostrando potencial para ser, consegue se destacar. Principalmente por sua regularidade e eficiência tática. Já Atlético-MG, Cruzeiro, Inter e São Paulo estão em baixa. Em todos os níveis.

Não é somente pela falta de tempo e paciência, dois dos fatores principais que o imediatismo tupiniquim ainda se deixa aflorar. Mas é pela falta de planos emergenciais, que também não surtem efeitos do dia para a noite.

O campeão brasileiro perdeu peças pontuais e foi obrigado a remontar a equipe. Foi um risco que a diretoria decidiu correr. Está pagando. O campeão da Copa do Brasil, por sua vez, perdeu (leia-se vendeu) a principal arma do time e contratou outra, que demanda certo tempo para estar afiada. Sabia disso! Já o sempre favorito dos pampas trocou o comando. As peças continuaram lá, chegaram até outras novas, mas as regras mudaram. Em SP, a efervescência política respingou no elenco e as adversidades naturais, como lesões e má fase de alguns jogadores, corroboraram para que a equipe de Muricy entrasse numa decadência. Ainda há saída.

A verdade é que não há desculpa. A nossa realidade, infelizmente, é sufocante. A pressão deve e vai existir sempre nos grandes, porém não há uma dose de bom senso na hora de apontar-se os dedos ou criar factoides. As teorias são baseadas, quase sempre, em uma superficialidade do nível de um pires.

No Corinthians, por exemplo, as coisas vêm funcionando porque houve a instauração de um padrão. Há, nitidamente, um conceito claro de jogar bola e planos emergências quando eles não funcionam. Isso ocorre desde a Era Mano Menezes, em suas duas passagens e, recentemente foi remodulado, com Tite, que parece ter retornado de longas férias. Dentro de campo, tudo continua igual no modo de atuar. Mesmo que muitos jogadores tenham saído, é possível identificar as razões para o alto nível de competitividade do Timão. Ao contrário de seus rivais.

Assim como foi Paulinho em 2012, está sendo Elias em 2015: um dos pilares da equipe de Tite (Foto: Marcos Ribolli)
Assim como foi Paulinho em 2012, está sendo Elias em 2015: um dos pilares da equipe de Tite (Foto: Marcos Ribolli)

Por aqui, ainda seguimos cobrando dos nossos times um futebol que eles estão a cada temporada deixando de poder nos dar. Acredito que ainda se faz presente um pensamento “europeu”, porque muitas vezes nos vendem essa ideia. Porém, na realidade dos campos, deixando de lado outras esferas, agimos, quase sempre, como terceiro mundo. Sem contar que no quesito organização seríamos quarto ou quinto. Afinal, exportamos, ao invés de valorizarmos. Padronizamos, ao invés de deixar fluir o talento. Nos preocupamos em criar a base vencedora, campeã e esquecemos que o importante é revelar a molecada. Pagamos caro por ilusão. Pela inflação. Pedimos paz, na mesma medida em que veneramos uma polêmica vazia, daquela que não agrega e não gera nenhum debate enriquecedor.

E assim o segue o jogo, jogado de qualquer jeito. Tratado de qualquer jeito. Onde os técnicos cada vez mais pedem o boné. Onde o mercado da bola se aquece a cada faísca manchetada e a fumaça do incêndio das crises segue sendo somente controlada, ao invés de apagada.

“A IMAGEM DO CRUZEIRO RESPLANDECE”

Escreveu Claudinei Cotta.

O TETRA EM QUATRO ATOS

Domingo, 23 de novembro de 2014.

Pouco antes das 19 horas o árbitro encerrava a partida entre Cruzeiro e Goiás no Mineirão. A vitória pelo placar de 2 a 1, com gols de Ricardo Goulart e Everton Ribeiro, já está eternizada na memória de toda a China Azul, consagrando o Cruzeiro como Tetracampeão Brasileiro.

Mas como o Cruzeiro atingiu os 76 pontos que garantiram o título?

É possível dividir a conquista em quatro atos.

ATO I – PRÉ COPA:

A expectativa para a realização da Copa do Mundo já tomava conta de todo o país e as nove rodadas iniciais aconteceram no que pode ser considerado um “Brasileirinho”. Nesse período o Cruzeiro dividia a disputa do campeonato nacional com a Taça Libertadores da América, colocando em campo uma equipe que mesclava alguns titulares, muitos reservas e novas figuras das categorias de base. Importantes vitórias aconteceram neste período, com destaque para os pontos obtidos nos confrontos contra Bahia, Atlético Paranaense e Internacional.

As derrotas para Atlético Mineiro (quando o Cruzeiro entrou em campo com um time reserva) e Corinthians foram lamentadas, mas compreendidas pela torcida, pois no fim das contas o Cruzeiro conquistava o Brasileirinho com 19 pontos, após massacrar o Flamengo em Uberlândia por 3 a 0, placar construído no primeiro tempo.

 

ATO II – CONSOLIDANDO A LIDERANÇA

A maioria dos torcedores brasileiros amargavam o desastroso 7 a 1 sofrido pela seleção brasileira contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo. Havia ainda a chamada depressão pós-Copa, aquela sensação de que seria difícil encarar alguns jogos do Brasileirão depois de uma Copa do Mundo empolgante.

Não era bem esse o sentimento da torcida celeste, pois para o cruzeirense a parada para a Copa significava um período de quase 50 dias longe da equipe que liderava o campeonato nacional, correndo o risco de uma quebra de ritmo justamente quando a equipe estava embalada. Nesse meio tempo o Cruzeiro fez alguns amistosos nos Estados Unidos, atuando contra equipes locais e fortes equipes mexicanas.

O retorno do Brasileirão ocorreu contra o Vitória, no Mineirão, o mesmo palco do vexame da seleção brasileira. Cabia ao time do Cruzeiro exorcizar os fantasmas do Mineirazzo e seguir adiante na disputa pelo quarto título nacional. O Cruzeiro bateu o Vitória por 3 a 1 e continuou no comando da tábua de classificação.

Nesta fase o Cruzeiro conseguiu ampliar a vantagem sobre os principais adversários com vitórias importantes contra Palmeiras, Grêmio, Goiás e um primoroso segundo tempo com uma goleada incontestável contra o Figueirense, relembrando o estilo de jogo do título de 2013. O returno foi encerrado com um empate em 3 a 3 contra o Fluminense no Maracanã, com um golaço de Marcelo Moreno. Esse certamente foi um dos melhores jogos do Brasileirão 2014.

 

ATO III – O DESGASTE

No primeiro jogo do returno o Cruzeiro vence o Bahia por 2 a 1 no Mineirão. Contra o tricolor baiano o time venceu sem convencer, sem a velocidade e o toque de bola que simbolizava o futebol cruzeirense até então. Mas venceu!

A partida seguinte contra o São Paulo foi a primeira final do campeonato. O Cruzeiro fez um bom primeiro tempo, mas no fim das contas foi merecidamente batido pelo São Paulo, que estava em ascensão no campeonato e reduzira a vantagem para quatro pontos. Muitos questionamentos surgiram e o time celeste encarava uma pequena crise.

Após uma tranqüila vitória contra o Atlético Paranaense por 2 a 0, o time cruzeirense teria pela frente o Atlético Mineiro, no Mineirão, e com amplo apoio da torcida azul. Confirmando a tese de que futebol não tem lógica, e clássico regional ainda menos, o Cruzeiro é derrotado por 3 a 2, mesmo atuando com superioridade no segundo tempo e com chances de ampliar o marcador. Um duro golpe!

A vitória contra o Coritiba fora de casa e o empate contra o Sport garantiam a manutenção da liderança, mas o Cruzeiro definitivamente apresentava uma nítida queda de rendimento. A partida contra o Internacional, no Mineirão, foi anunciada como a nova final do campeonato, pois os gaúchos estavam em alta. O Cruzeiro venceu e convenceu. O futebol empolgante de 2013 e de todo o primeiro turno voltou a empolgar a torcida. O time dava sinais de que poderia engrenar uma importante sequência de vitórias.

Mas o que aconteceu a seguir foram duas derrotas. A primeira para o Corinthians, no Mineirão, jogando mal, e sem chances de superar a bem posicionada defesa corintiana. Já a derrota seguinte será certamente lembrada como a pior apresentação do Cruzeiro em 2014, com direito a momentos absolutamente ridículos protagonizados por toda a defesa cruzeirense, com direito a golaço contra do zagueiro Dedé e um constrangedor desentendimento entre o zagueiro Manoel e o goleiro Fábio. Resultado: um acachapante 3 a 0 para os rubro-negros!

Em meio a muitas desconfianças o Cruzeiro venceu o Vitória em Salvador por 1 a 0, com gol de Dedé, justamente um dos vilões da derrota para o Flamengo. Futebol tem dessas coisas! Nas rodadas seguintes o Cruzeiro teria condições de conquistar importantes pontos contra equipes desesperadas da tabela. Mas não existe mais jogo fácil e os celestes derraparam novamente contra Palmeiras e Figueirense, com dois empates amargos.

 

ATO IV – SUPERAÇÃO

Na fase final do Campeonato Brasileiro muitos acreditavam que o Cruzeiro não teria mais forças para manter a liderança. Mas o time não derrapou contra equipes fracas como Botafogo e Criciúma. As duas vitórias devolveram o entusiasmo ao time. Nesse meio tempo o Cruzeiro enfrentava a maratona de jogos da Copa do Brasil, com o time avançando para as finais.

Numa tarde de domingo o Cruzeiro venceria o Santos, o mesmo rival das semifinais da Copa do Brasil, e com um belo gol de Ricardo Goulart. A vitória conquistada na Vila Belmiro, manteve a diferença para o São Paulo em quatro pontos e o Cruzeiro partia então para o dificílimo jogo contra o Grêmio em Porto Alegre. Mais uma final!

Chego do trabalho um pouco mais cedo e pronto para um jogo complicado. A partida acontecia numa quinta-feira, um jogo de Brasileirão com cara de Libertadores e Copa do Brasil, pois o adversário era o Grêmio, velho rival de competições nacionais e internacionais. Contra o tricolor gaúcho o Cruzeiro voltou a fazer um primeiro tempo pavoroso. O Grêmio poderia muito bem ter aplicado um placar elástico, mas não soube aproveitar as chances. Fábio fez dois milagres durante a partida e o Cruzeiro no segundo tempo voltou a jogar bem, controlando a partida e apresentando um belo toque de bola. O empate ficou por conta de Ricardo Goulart, o artilheiro celeste no Brasileirão. A virada veio nos pés de Everton Ribeiro, num contra ataque muito bem construído. Cruzeiro 2 a 1 na Arena do Grêmio. O Cruzeirão abria sete pontos sobre o São Paulo a gora faltava um jogo para o título.

Chuva forte em BH. Quase 60 mil torcedores lotam o Mineirão. O gramado estava encharcado, é o que afirmavam os comentaristas da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte. Por volta das 13 horas comecei a me preparar para a partida. Bandeira azul na sala. Camisas históricas do Cruzeiro espalhadas por todos os lados. Minha mulher sempre olha desconfiada para esse ritual pré-jogo decisivo e nunca compreende bem essa lógica. Mas é melhor assim! Nunca vou conseguir compreender quem não ama futebol, pois estão livres de certos sofrimentos, o que é bom, mas nunca viverão essa ansiedade e o sentimento de felicidade pela conquista de um título. Ao menos ela não é atleticana!

A “final”: O Cruzeiro saiu na frente com um gol de cabeça de Ricardo Goulart, aos 13 minutos. O time celeste controlou a partida durante boa parte do primeiro tempo, mas sofreu o empate numa vacilada da defesa. No segundo tempo vem a notícia de que o São Paulo vencia o Santos e com os resultados a decisão do campeonato seria adiada para a penúltima rodada. No segundo tempo o Cruzeiro avançava ao ataque como é de costume, mas o Goiás contra atacava com perigo. Por volta dos 20 minutos Ricardo Goulart vai até a linha de fundo e cruza: 2 a 1 no placar, com um gol de cabeça do baixinho Everton Ribeiro.

Sofri com alguns ataques do Goiás e o iminente risco de empate a qualquer momento. O jogo parecia não terminar! Impossível não lembrar de alguns gols sofridos nos últimos minutos contra Atlético Mineiro, Figueirense, Fluminense e Palmeiras.

Quando o juiz apitou o final da partida me lembrei dos quase 70 gols marcados pelo Cruzeiro em todo o campeonato.

É impossível não homenagear os heróis do passado, como Tostão, Dirceu Lopes, Procópio, Natal e todos os outros craques campeões de 1966. Há ainda os heróis do primeiro título por pontos corridos, conquistado em 2003: Alex, Gomes, Aristizabal, Maurinho, Leandro, etc.

Os heróis do tetra são, guardadas algumas exceções os heróis do tricampeonato: Fábio, Ricardo Goulart, Everton Ribeiro, Ceará, Mayke, Lucas Silva, entre outros.

E então o Cruzeiro Esporte Clube escrevia nesta tarde de domingo mais uma de suas “páginas, heróicas e imortais”: É TETRA!

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 Claudinei Cotta, cruzeirense, é professor de Sociologia e História.

 

O FUTEBOL SOBREVIVE POR ELE

É…2014 tem sido mesmo fantástico e, ao mesmo tempo, intenso. Em todos os aspectos. Tivemos praticamente um ano dividido em dois. Dois partidos políticos. Duas frentes de ideias. E dois períodos: um pré-copa e um pós-copa.

No futebol brasileiro, o pré nos reservou o mesmo de outros tempos: os já enfadonhos campeonatos estaduais e suas políticas cada vez mais sujas e menos pensantes quanto ao nível e o melhoramento de nosso esporte.

O pós, tratou de escancarar justamente isso. Até porque, os 7×1 do Mundial nos deixaram feridas abertas e sinais claros de que, caso não seja feita nenhuma mudança brusca e significativa no modo de se gerir, formar, gerenciar e, sobretudo, jogar, continuaremos em queda livre. Continuaremos sendo goleados por cartolas e suas cartas na manga, sempre com o mais manjado dos truques.

Mas, por outro lado, o dia 05 de novembro de 2014 mostrou que o futebol, mesmo quando mal tratado, ainda se supera sozinho. Graças ao seu encanto natural. À sua maneira única de jogar por terra justiças e justiceiros de plantão. Graças aos seus enredos sempre inexplicáveis, sem pé nem cabeça. Por sua capacidade ímpar de formar caráter e formar torcedores. Tanto na derrota, que se transformaria em vitória impossível, quanto na possível vitória que acabaria em derrota impossível. Como entender? Não é preciso.

As semifinais da Copa do Brasil de todas as Copas tem ratificado esta máxima. E o seu principal protagonista talvez seja o Time dos Milagres, da Fé e, principalmente, dos Santos, que fugiram da Bahia para se alocar na Cidade do Galo, em BH – a capital do Esporte Bretão tupiniquim. Como pode? O enredo da classificação do Atlético-MG contra o Flamengo foi exatamente o mesmo do jogo diante do Corinthians, com o mesmo placar. Quem explica? Se é que precisa? A verdade é que o Galo é mesmo doido!

Por falar em Santos, o gigante da Vila mais famosa do mundo jogou como nunca, chegou a estar próximo do êxito, porém sucumbiu de maneira triste e dolorosa ao ainda regular e cirúrgico Cruzeiro. Este, bem perto de repetir a temporada 2003, quando faturou a tríplice coroa, conquistando Campeonato Mineiro, Brasileiro e a Copa do Brasil.

Willian anotou dois gols no jogo da Vila Belmiro ((Foto: Wagner Carmo / Vipcomm)
Willian anotou dois gols na Vila Belmiro ((Foto: Wagner Carmo / Vipcomm)

Já na Sul-Americana, mais precisamente em Guayaquil, no Equador, o São Paulo foi mais que gigante ao suportar a pressão do indigesto dono da casa Emelec. Afinal, a partida, que já começou quente um dia antes, foi um turbilhão de emoções durante os 90 minutos, testando de maneira cruel o coração do mais cético dos são-paulinos.

Mesmo tendo saído atrás no placar, o Tricolor foi valente e conseguiu a virada, com gols de Alan Kardec e Ganso, ainda na etapa inicial.

Aparentemente, a classificação viria de forma tranquila, certo? Ledo engano!

Veio o segundo-tempo e a equipe equatoriana simplesmente amassou a brasileira. Principalmente quando marcou dois gols em sete minutos. Ou, quando quase empatou nas três bolas que explodiram nas traves de Rogério Ceni, que salvaria o time em duas ocasiões e ainda assistiria o atacante Mena desperdiçar chance imperdível. Decisiva.

Resultado: São Paulo nas semifinais de maneira heroica. Fator que pode ser crucial para impulsionar a equipe de Muricy ao bi.

Rogério Ceni elogiou a garra da equipe no jogo contra o Emelec (Foto: Rubens Chiri/site oficial do SPFC)
Rogério Ceni elogiou a garra da equipe no jogo contra o Emelec (Foto: Rubens Chiri/site oficial do SPFC)

Fato é que, mesmo combalido e jogado às traças, nosso futebol brasileiro ainda nos dá motivos plausíveis para mantermos vivo aquele fio de esperança em um futuro melhor. Em um esporte, como um todo, melhor. Mais saudável e menos infectado.

No Brasil e, em todo mundo, acredito que o futebol sobrevive somente por ele. Seja aonde for. Como for. Basta rolar a bola. Basta jogar o jogo. Basta um gol. Uma defesa. Uma virada. Basta senti-lo. Basta.

Assim como classificou Juca Kfouri, em seu blog no UOL, a última noite foi a melhor do ano, mesmo ainda tendo 6 rodadas do Brasileirão e a final entre Cruzeiro x Atlético-MG pela frente.

Cheguei da faculdade, abri o WhatsApp e vi que os jogos estavam emocionantes. Em 3 pelejas, foram 16 gols e três viradas. Épico! Histórico. Chegou uma hora em que fiquei perdido com o controle remoto na mão, não sabendo em qual jogo deixar sem me emocionar.

Ainda restam duvidas que a última quarta salvou a temporada?

Por mim, na boa, poderia acordar amanhã no dia 31, esperando ansiosamente pelos festejos do Réveillon.

Ah! Já ia me esquecendo…

Feliz 2015!

Luan marcou o gol que selou a vaga do Galo à final (Foto: Cristiane Mattos / Futura Press)

Luan marcou o gol que selou a vaga do Galo à final (Foto: Cristiane Mattos / Futura Press)

QUEM PAGARÁ A CONTA?

As semifinais da Copa do Brasil colocaram os dois melhores time do Brasil no caminho de duas camisas igualmente tradicionais, mas que não vivem seu melhor momento.

O time a ser batido em 2014 enfrentou um irregular, porém esforçado, Santos, que dentro das suas infinitas limitações precisava reverter uma vantagem simples de 1×0 conquistado no Mineirão.

A Vila Belmiro foi  o palco escolhido para virada. Haverá contestações de muitos em relação ao fato de não ser o Pacaembu o escolhido para um jogo dessa dimensão, mas é na Vila que o Santos se sente em casa e assim foi feito.

12 mil vozes e a pressão corriqueira do estádio fizeram com que a vantagem de 1×0 sucumbisse em apenas 1 minuto, Robinho abriu o placar e incendiou a partida.

Contudo, foi justamente o gol que escancarou as realidades dos times e do jogo. O Cruzeiro, líder do certame nacional, experiente e “cascudo” não sentiu o gol inicial e foi cirúrgico para empatar. Na primeira descida, 1×1 e um balde de água fria no Santos.

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Como se não bastasse a chuva e o gramado pesado, os garotos do Santos sentiram a pressão e a dificuldade da decisão. Caberia aos “medalhões” chamarem a responsabilidade, mas também não foram capazes disso diante da calma e precisão do Cruzeiro.

O 3×1 necessário até foi construído. Aos “trancos e barrancos” e na superação, o Santos alcançou o resultado necessário para chegar à final, mas era muito cedo. O Cruzeiro tinha muito tempo para anotar 1 tento e o Santos tinha pouca perna para impedir.

Prevaleceu mais uma vez a eficiência e a experiência e o 3×3 era inevitável. O torcedor não enxergava isso, mas a cada substituição, o gol do Cruzeiro se aproximava e carregado pelos braços da torcida, a resistência do time durou até os 35min do 2° tempo.  Momento chave, o momento da eliminação e o anúncio do fim da temporada do Santos.

O alvinegro encerra mais uma temporada sem títulos, sem vaga na Libertadores e sem previsões otimistas de futuro.

Os 90 minutos diante do Cruzeiro foram suficientes para não salvar 2014 e comprometer 2015. O clube vive uma crise “invisível” e deve fechar o ano novamente deficitário.

O que se sabe é que a Diretoria será renovada, muitos jogadores sairão, mas o saldo das decepções e da péssima gestão dos últimos dois anos fica a cargo de quem?

Afinal, quem pagará a conta?

NINGUÉM QUER SER O FLAMENGO DE 2009

Petkovic e Adriano festejam o Hexa do Flamengo, em 2009 (Imagem: Google)
Petkovic e Adriano festejam o Hexa do Flamengo, em 2009 (Imagem: Google)

E agora? Ninguém quer ganhar o BR14! O líder Cruzeiro, pelo visto, entrou em modo “stand by”, proporcionando oportunidades de ouro para que alguém tome sua liderança e conquiste seu título – semelhante ao que ocorreu lá em 2009, quando o Palmeiras, do presidente Belluzzo e dos técnicos Luxemburgo, Jorginho e Muricy chegou até a 38°rodada disputando o título e acabou fora da Libertadores.

O mais incrível é que esta fatalidade não acontecerá com o Cruzeiro, embora seja possível.

O que salta aos olhos é que desta vez não há nenhum concorrente que se assemelhe ao Flamengo, campeão daquele ano de maneira espetacular. Na época, o Rubro-Negro, regido pela dupla Petkovic e Adriano, no melhor estilo come-quieto sob a batuta do interino Andrade, abocanhou o hexa no embalo da torcida e, principalmente, no vacilo alheio, chegando a última rodada brigando com mais três, mas dependendo apenas de uma vitória simples para fazer a festa. No final, todos sabem o que aconteceu.

Voltando ao presente, o São Paulo, do quarteto que ultimamente vem desafinando em apresentações importantes, praticamente saiu de cena por errar a letra novamente. O empate sem gols em Chapecó tratou de confirmar o que tem sido a tônica neste campeonato da equipe do Morumbi: os inalteráveis sete pontos de diferença para o primeiro colocado. Só lembrando que em 2009, a esta altura, o Flamengo tinha 6 pontos de diferença para o líder Palmeiras.

E o que dizer do Internacional, que teve o título na mão a poucas rodadas? Logo após ser goleado pela Chapecoense, em seguida, o Colorado jogou pela honra contra o Fluminense, venceu sob lágrimas, empolgou a torcida mas voltou ao normal. Os últimos dois tropeços foram cruciais para, praticamente, liquidar às chances dos gaúchos de sair da fila. Nem a vaga para a Libertadores-15 virou uma certeza no Beira-Rio, já que a equipe de Abelão deixou o grupo dos quatro primeiros.

Após uma semana da eliminação histórica para na Copa do Brasil, o Corinthians emplacou dois bons resultados, um deles diante do Inter, fora de casa, e ocupa agora a terceira colocação, com 52 pontos. Teoricamente, ainda há esperanças. Em contrapartida, o futebol dentro de campo pouco empolga.

Dos outros três, talvez o único que carregue consigo meras semelhanças com o Fla-09 seja o próprio Galo, semifinalista, assim como rival local, da Copa do Brasil. Líder do segundo turno, com 21 pontos, o Atlético sofreu recentemente um tropeço frente ao Bahia, fora de casa, resultado que ainda o manteve no G4. Resta saber se a equipe de Levir Culpi reunirá forças para brigar e bicar os dois troféus.

Fato é que não existe razão que possa explicar tamanha irregularidade de elencos tão caros e, até certo ponto, qualificados (no papel) por sucumbirem de maneira tão pífia da briga por um título cada vez mais palpável.

O Cruzeiro, que agora necessita de apenas 4  vitórias para levar o bi, mostrou nas últimas partidas que não é o super time que muitos diziam ser imbatível, porém ainda assim consegue a proeza de ser regular até na sorte.

Aos concorrentes, somente uma sequência de vitórias que beire à perfeição para mudar a certeza. Para mudar a história.