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SOMOS TODOS ANTIS. SOMOS TODOS FUTEBOL

Pelas oitavas de final da Libertadores, deu Guaraní-PAR em Itaquera (Foto: Andre Penner/AP)

Ontem, lembrei de 2012. Ano ruim. Fora o mito do fim do mundo que fracassou, meu mundo caiu quando o meu verde desbotou de volta à Série B, após breve período de alegria. Mais ainda, quando meu rival sorriu demais na América que já foi minha e, como senão bastasse, no mundo da pelota tratou de pintar o Japão de preto e branco. Era demais para a minha rivalidade. Foi demais para eles, imagino.

Lembro-me, também, que nos jogos antecedentes ao dia 04 de julho de 2012, tomaram as redes sociais a palavra mais escrota da história recente do futebol: ANTI. Afinal, o que é ser um anti? Na época, alguns corintianos dotados pelo senso de exclusividade vendido por parte da mídia, diziam com todas as letras que “todos estavam contra o Corinthians”, esquecendo-se de vez o real significado da palavra rivalidade. Até porque, sem ela não há razão de existir o futebol. Que graça teria eu comemorar os feitos gloriosos do meu time sem ridicularizar meu rival, tão grande quanto eu, tão significante quanto eu? A vitória não teria sentido. Acredito que nem poderíamos chamar de vitória. Mas mero simbolismo.

Ontem, Corinthians e São Paulo, integrantes do grupo da morte, morreram abraçados nas oitavas. O Tricolor caiu nos pênaltis, em BH, para Fábio, que pegou tudo em SP, e garantiu a vaga do reformulado Cruzeiro. Já no Itaquerão, o bravo Guaraní, não da “Capital”, mas do Paraguai, segurou o ímpeto alvinegro controlando seus ânimos, enervando o adversário. Acabou premiado, com merecimento, classificando-se às quartas de final da, já histórica, Copa Libertadores 2015.

Do lado corintiano, muita coisa deve mudar. Tem que mudar. Há uma semana, o mais incrível é que uma leva de desculpas surgiram da noite para o dia tentando abafar a má fase, que é nítida, mas parece não existir. Gente que falava em time de Champions League agora se escora nos salários atrasados. Assim é fácil! Mas será que as contas vazias dos jogadores são tão influentes assim para todo esse declínio técnico? Acho que não. Ainda mais para um time experiente como o Corinthians. Achei este texto do Esporte Fino bom por isso, pois foi na ferida, esmiuçou bem os problemas do Timão, que, muitas vezes, passam batido nas mesas redondas por aí, seja por má vontade ou vontade demais, pois tratam de analisar somente o óbvio, criando diversos factoides em cima de fatos que mereciam mais aprofundamento e credibilidade.

“Os encantos de aparecer em rede nacional mostrando todo o seu conhecimento adquirido são enormes. Mas Tite poderia ter se poupado, colocado os pés no chão e lembrado que àquela altura do ano o que ele tinha era apenas um bom reinício no Corinthians. Só”. É isso. A soberba. De Guerrero. Da prioridade. O futebol dá dessas lições.

Sempre falei que Tite voltou ao Corinthians passando a impressão de nunca ter saído. O problema é a especulação. E, justo ele, que parece ser tão contido quanto ao “oba oba”, caiu. Vai precisar se reinventar. Mais uma vez. Tem potencial, mas precisa ser bombeiro, como em 2011, quando ressurgiu levantando o Penta do Brasileirão.

No Morumbi, a situação não é muito diferente. A escassez de títulos incomoda. Não que a desclassificação seja por conta disso. Não é. Mas a prepotência e as já perceptíveis pataquadas de Carlos Miguel Aidar deixam o torcedor são-paulino com os dois pés e uma atrás em relação ao futuro do clube, que amargou mais uma vez uma eliminação para um brasileiro. A segunda para a Raposa, inclusive. Quanto ao jogo em si, o time de Milton Cruz até que tentou segurar o adversário fora de casa. Mas sucumbiu e acabou eliminado no turbilhão de adrenalina que são as cobranças de pênaltis. Além disso, a partida também marcou a despedida do capitão Rogério Ceni na Libertadores. O cara que tem sido mais São Paulo em uma terra onde muitos parecem ter esquecido o que significam aquelas 3 cores.

Por outro lado, não pelo futebol brasileiro, mas somente por suas torcidas, cruzeirenses e colorados festejam nesta quinta e, até a próxima partida, a honra de seguirem, por eles e por seu povo, na competição mais importante do continente.

Enquanto isso, nas redes sociais os antis comemoram a desgraça alheia. Como tem que ser. Como sempre será.

A LIÇÃO DE CASA DE TITE

Há quem diga que o Corinthians de 2015 nada mais é de que a continuidade de um trabalho iniciado por Mano Menezes, que culminou no acesso à primeira fase da Copa Libertadores. Eu discordo.

Embora não dê pra culpar Mano totalmente, e nem tirar-lhe o mérito de uma razoável posição no campeonato brasileiro no último ano, sua segunda passagem pelo clube foi desastrosa. Havia sobre si e sobre seus comandados um ar de apatia, de “tanto faz”, de prazo de validade vencido.

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Posto isso, o Tite que retornou ao Timão para sua terceira vez como treinador não é o mesmo que deixou o clube antes da volta de Mano. Com a premissa de estudar, se atualizar (e uma ambição frustrada de chegar à Seleção), Adenor cumpriu o que prometeu. Estudou, conversou com treinadores renomados, visitou instalações, analisou treinamentos e táticas.

O significado e o resultado disso podem ser exemplificados na partida contra o São Paulo, na Arena Corinthians, pela Libertadores. Elias e Jadson, autores dos gols da partida, não são nem de longe os mesmos de 2014. O primeiro finalmente voltou a ser um jogador decisivo e importante dentro do esquema. Sabe-se lá por que, vinha jogando recuado. Agora voltou a ser o jogador que chega de surpresa, escapa da marcação e não desperdiça oportunidades. Jadson, que voltou à titularidade depois da saída de Lodeiro (que convenhamos, não se adaptou e não jogou uma só partida de destaque), parece ter ganho uma injeção de ânimo, e, dividindo o meio de campo com um Renato Augusto enfim livre das sucessivas lesões, vem ajudando a formar um time com bom toque de bola e inteligência. E ainda há Danilo, talvez o melhor reserva em atividade no futebol brasileiro. Curioso pensar que, em tempos em que é praxe o jogador de futebol chiar por estar no banco, nunca vimos Danilo reclamando de absolutamente nada. Isso poderia soar como menosprezo, apatia, não fosse o fato de que o meia é quase sempre certeiro e voluntarioso quando entra em campo.

Se você, caro leitor, pesquisar meus textos aqui neste espaço, frequentemente encontrará a expressão “dar a mão à palmatória”, referindo-se à necessidade de admitir as boas decisões de Tite, que culminaram em alguns títulos. Pois bem: eu, que era relutante quanto à volta do treinador, estendo minhas mãos novamente.

Um último apontamento: no jogo, nem foi necessário colocar Vagner Love em campo, e Guerrero pode até ter feito falta em algumas finalizações, mas o time não sentiu tanto esta ausência. Acho que seus empresários vão precisar caprichar na próxima proposta.

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Neste 19 de fevereiro, nosso ídolo Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira completaria 61 anos. Sempre vai faltar o Doutor.

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