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QUEM SERÁ O NOVO BETINHO?

Em 2012, o Palmeiras de Felipão chegava às semifinais da Copa do Brasil com um dos piores times de sua história. O caminho até a conquista foi árduo, duro, dramático e emocionante. Tendo a cada jogo, um capítulo especial, em que a superação de limites se tornava o ponto forte daquele grupo limitado.

Enquanto todos pintavam uma classificação tranquila do favorito e badalado Grêmio, eis que aconteceu o “impossível”.

A camisa alviverde envergou o varal e a vaga na final veio graças às poucas referências técnicas daquele elenco. Barcos foi decisivo no Sul. Já Valdívia, selou a vaga em São Paulo, com um belo gol no fim da batalha de Barueri.

Porém, às vésperas da finalíssima, uma notícia ruim tirou do torcedor palestrino o sorriso da confiança de viver após tanto tempo uma decisão. Com uma crise de apendicite, o camisa 9 argentino ficou de fora da partida contra o também “favorito” Coritiba, que, de forma consecutiva, chegava novamente a disputa do título. 

Em Copas do Mundo, na campanha do bi, em 1962, no Chile, Pelé se lesionou e, em seu lugar, entrou o botafoguense Amarildo, apelidado pelo eterno Nelson Rodrigues de “possesso”.

Amarildo foi um coadjuvante de luxo para Garrincha conduzir a Seleção ao topo do mundo novamente. 52 anos depois, na aguardada Copa no Brasil, nos perguntamos agora quem será o novo Amarildo, dos 23 comandados de Scolari, diante da Alemanha, no Mineirão. E Garrincha? De fato, não sabemos. Talvez, não teremos nenhum dos dois. Teremos força. Como teve aquele Palmeiras de 2012.

Garrincha e Amarildo foram peças fundamentais na conquista do bi Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo
Garrincha e Amarildo foram peças fundamentais na conquista do bi Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo

O provável aponta para as entradas de Bernard ou Willian. Entretanto, uma duvida paira no ar quanto a capacidade desses jogadores substituírem Neymar. Ao certo, nos bastidores, a estrela de Felipão costuma ser extremamente decisiva em momentos de tensão.

Há dois anos, o Palmeiras perdia seu principal atacante para aquela que seria a sua “final de Copa do Mundo”. O Bigode, por sua vez, inventou o desconhecido e recém-chegado Betinho, motivou ainda mais seus jogadores com tudo que havia acontecido e o resultado final todos sabem.

Óbvio que a proporção das competições não tem comparação, não cabe. Mas, após a confirmação da ausência de Barcos, parecia que estava tudo perdido. Assim como aconteceu na última sexta-feira, após o anúncio da lesão de Neymar, que teve uma das vértebras fraturadas pelo colombiano Camilo Zúñiga.

O Brasil está vivo. Vivíssimo. E quem acha o contrário, de fato, não conhece o “modo felipônico” de trabalhar.

Em 2012, o desconhecido Betinho fez o gol do título do Palmeiras Crédito: Getty
Em 2012, o desconhecido Betinho fez o gol do título do Palmeiras
Crédito: Getty

O HOMEM DOS DOIS GOLS

Manchetes dos principais jornais e portais esportivos há pouco mais de 3 meses:

“Palmeiras contrata atacante que contabiliza somente 1 gol em 70 jogos”.

“Desconhecido, Betinho assina com o Palmeiras por 3 meses”

“Sonhando com Tiago Ribeiro, realidade alviverde é Betinho”

“Sob desconfiança geral, Betinho pede voto de confiança”

“Com gol de cabeça do contestado Betinho, Palmeiras empata com o Coritiba no Couto Pereira e é bicampeão da Copa do Brasil”

“Felipão pede que diretoria renove e conceda aumento salarial ao herói do título: O Betinho merece”

“Nos Aflitos, Palmeiras não resiste ao Náutico, perde a 3ª partida consecutiva e série B fica inevitável. Com uma série de desfalques, Gilson Kleina mandou a campo o time com Bruno; Artur, Leandro Amaro, Thiago Heleno e Juninho; Márcio Araújo (Betinho), João Denoni, Tiago Real e Mazinho (Patrick Vieira); Luan e Obina (Vinícius). Quando a solução é a entrada de Betinho não dá pra reclamar muito de rebaixamento”

“Jogo contra o Bahia é encarado como definitivo para as pretensões alviverdes. Nova derrota pode decretar rebaixamento. Aguardando os retornos de Marcos Assunção e Barcos, Gilson Kleina sinaliza com a possibilidade de entrar com Betinho no time titular”

19 minutos do 1º tempo em Pituaçu: “Barcos recebe na linha de fundo, levanta a bola na pequena área para Betinho, livre de marcação, cabecear para o fundo das redes do Bahia” 

“Com gol do predestinado Betinho, Palmeiras bate o Bahia em Pituaçu e reacende as esperanças em permanecer na série A” 

“Autor de gol que devolveu a esperança ao torcedor alviverde, Betinho avisa: “Não sou talismã. “Busco meu lugar na equipe” 

Manchetes improváveis de um time imprevisível: 

“Após 4 vitórias consecutivas, jogadores do Palmeiras são contundentes ao afirmar: Gol de Betinho na vitória contra o Bahia marcou a reação do time nesse Brasileirão” 

“Em um Pacaembu com 147 milhões de palmeirenses, Betinho marca de cabeça contra o Atlético GO, vira símbolo da arrancada alviverde e decreta permanência do Palmeiras na primeira divisão”

 

Betinho é a cara desse Palmeiras 2012. Marginalizado pela crítica, desprezado pelos rivais, açoitado por tudo e por todos. Não é um primor de técnica. Aliás, está longe disso. Mas quando menos se espera, quando todo mundo quer virar o coveiro da última pá de terra, algo acontece, uma bola é desviada marotamente, uma rede adversária balança aqui, outra acolá. E foi só uma aqui e outra acolá mesmo. Mas podem bastar. Uma bastou. Uma foi a do título. A outra devolveu a esperança permeada pela possibilidade agora real.

Podem ser de Betinho os dois gols mais importantes do Palmeiras na temporada. Dos mais importantes na década.

É óbvio que não dá para construir um time campeão a partir de Betinho. Mas um campeão desconstruído como o Palmeiras precisa de um sujeito desacreditado como ele. Desenganado, esganando o menos atento quando menos se espera.

A história de Betinho com o Palmeiras deve terminar junto com o ano que chega ao seu fim. Mas dentro da história palmeirense, que nunca terá fim, um capítulo a parte caberá a ele.

Quem sabe…

…“Barcelona contrata Betinho por 200 milhões de euros”

“Palmeiras anuncia plano de carreira para Betinho. Projeto inclui aposentadoria remunerada, busto na nova Arena e uso de imagem em campanhas publicitárias”

“Em final histórica, Palmeiras vence o Corinthians e conquista o bi da Libertadores. Com atuação de gala, Betinho balança as redes com gol de cabeça”

São finais hipotéticos dessa história. Como hipotético era o título da Copa do Brasil. Como hipotética ainda pode ser a permanência na séria A. Como hipotético era, talvez ainda seja, a carreira de Betinho, atacante do Palmeiras.