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Café com Leite: Pedra no Sapato

Texto: Beto Almeida
Foto: Celio Messias (para o Lancenet!)


Você sabe quem é Guillermo Cañas? Se não sabe, explico. Tenista argentino, hoje aposentado, que nunca teve muito destaque no circuito profissional. Ganhou alguns bons torneios, porém nenhum de grande importância. Você sabe quem é Roger Federer? Se não sabe, explico. Tenista suíço, maior jogador em atividade atualmente, detentor de vários títulos do Grand Slam, quebrou quase todos os recordes do esporte e é considerado por muitos o maior tenista de todos os tempos.
“Mas essa não é uma coluna sobre futebol?”, você me pergunta. Respondo: É, sim. E, se faço essa introdução, é por um bom motivo. Pois, veja bem: Guillermo Cañas, o tenista mediano, é conhecido justamente por vencer quase todas as partidas que disputou com Federer, o melhor do mundo. Tal qual o Grêmio Prudente (ex-Barueri) é lembrado por ser uma pedra no sapato do Corinthians.
Sim, ladies and gentlemen, todos nós temos um nêmesis, aquela coisa que, por menor que seja, nunca conseguimos superar. Aquele cisco no olho que para os outros sai com um leve sopro, nós temos de enfiar a cara no ventilador. E ele teima em nos incomodar. Parece existir só pra isso, ser uma maldição na vida da gente. Mesmo na forma de um time de futebol.
Pois assim é o Grêmio Prudente (ex-Barueri). Sempre deu trabalho ao Todo-Poderoso, apesar de ser uma equipe nanica. São bem organizados, jogam direitinho e tal. Mas, poxa vida, é um time tão mequetrefe que vive de alugar seu nome para uma cidade ou outra. Pode?
Pode, e confesso que assisti o jogo de ontem apreensivo. Sabia que esse time ia dar trabalho pro Timão. Ainda mais quando nosso técnico insiste em escalar três volantes pra sair jogando. Não deu outra, o jogo começa bem equilibrado, mas aos 17 minutos o Grêmio consegue o primeiro gol da partida com Wanderley. Eu já sabia, e confesso que até fiquei curioso para saber como o alvinegro reagiria saindo atrás do marcador – teria capacidade de resistir ao golpe?
Teve, manteve a tranqüilidade e, aos trancos e barrancos, conseguiu o empate num lance de bola parada: Defederico (muito ansioso querendo mostrar jogo, foi regular) cruzou bola na área que Chicão ajeitou para Willian marcar, aos 32. Aí a torcida se empolgou, o time cresceu e passou a jogar melhor. Só que do outro lado tava a tal pedra no sapato, e aí…
Aí que o Grêmio Prudente (ex-Barueri) volta a fazer das suas e anota mais um gol com Diego em cobrança de falta, aos 44 minutos. Os times vão pro intervalo, eu vou pra padaria tomar café e aproveito pra fumar um cigarrinho no caminho. Tava nervoso.
Os times voltam, eu volto, começa o segundo tempo. O Corinthians fez uma alteração: Jucilei no lugar de Moacir, que não foi bem. Volta logo, Alessandro. E eu preocupado, porque o Mano insistia com os três volantes. Mas o Timão estava melhor em campo, tinha posse de bola, porém nenhuma criatividade para chegar ao gol. Parecia o São Paulo jogando. Ou seja, qualquer coisa era mais interessante que ver TV naquela hora.
E foi o que fiz, procurar no YouTube alguma música com o título “Pedra no Sapato” pra ilustrar a coluna. Então fui surpreendido pela expulsão de Mano Menezes por cornetar o juiz. Vendo que a vaca ia pro brejo, colocou Jorge Henrique e Bruno César, que deviam ter começado a partida, nos lugares de Defederico (deprimido pela não convocação para a seleção argentina) e Elias.
E Bruno César mostrou que tem estrela: na primeira vez que tocou na bola, cobrando uma falta, fez o gol de empate, num desvio do zagueiro do time que agora é de Presidente Prudente.
O fato é que a entrada desses dois jogadores melhorou muito a movimentação do time, que passou a pressionar muito mais o adversário. Meteu uma bola na trave, e no final quase Jucilei consegue a vitória, numa bola que passou rente a meta do goleiro Márcio.
Foi por pouco, bem pouco, que não conseguimos mais uma vitória. Tudo bem, um empate fora de casa não é mau negócio, mas do outro lado estava o Grêmio Prudente (ex-Barueri). Nossa pedra no sapato.

Café com Leite: No Sufoco

Texto: Beto Almeida

Foto: Junior Lago (para o Lancenet!)

O Timão jantou o Fluminense e faturou mais três pontos no Pacaembu, a torcida agradece e acende uma vela pra São Jorge, só pra garantir. A maré tá boa, mas todo cuidado é pouco nessas horas, e toda reza vale.
E São Jorge tem de ser muito guerreiro mesmo, considerando a quantidade de secadores que estão zicando o Todo Poderoso. Conheço gente que não assiste o jogo do próprio time, mas vê as pelejas do Timão só pra ficar secando, ô raça. Já estamos acostumados com a quizumba, e dou a dica, água de alfazema depois do banho que a zica não cola em quem tá cheiroso. E as mulheres gostam.
Esse é meu jeito, cada um carregue seu patuá como lhe aprouver, mas parece que o encosto que colocaram no escrete alvinegro para a disputa da Libertadores parece ter vazado pra bem longe, coisa boa. Então é aproveitar a fase e prosseguir na rotina de vitórias pra acumular o maior número de pontos possíveis, criando uma vantagem confortável em relação aos adversários. Coisa que o Palmeiras fez ano passado, no período Pré-Vexame.
Mas tô aqui pra falar do jogo, também. Como dizia, a vítima da vez foi o Fluminense, vulgo Tricolor Carioca, comandado pelo técnico de nome esquisito, Muricy Ramalho. Fui lá no dicionário e eis que:
murici
sm (tupi murisí) Bot
1 Arbusto da família das Malpighiáceas (Byrsonima crassifolia) da América tropical. Tem folhas verde-escuras, lustrosas na parte superior e sedosas na inferior, flores amarelas em racimos, e por fruto uma drupa carnosa amarela, comestível; murici-do-campo, murici-da-praia, murici-de-tabuleiro.
(Fonte: Dicionário Michaelis)
Tem outras acepções, mas tudo em torno desse tema. Tai, o cara tem o nome de um arbusto, vai ver foi concebido sob a sombra de um, ficou a homenagem. Sanada a dúvida, vamos continuar com a minha análise da partida, ou seja, buscar no dicionário o significado da palavra Gum, nome de um zagueiro do time do técnico de nome esquisito. Em vão, tal palavra não existe no dicionário, ou seja, sua origem é um mistério ainda a ser desvendado.
Times perfilados, toca o Hino Nacional, acaba o Hino Nacional, começa a partida, acaba a luz em casa. Vou ter de ver a peleja na padaria, acompanhado por um bando de secadores. Antes de sair de casa tomo um banho e passo água de alfazema pelo corpo, quase perdi o primeiro gol (e único) da partida, aos 11 minutos, numa cobrança de falta do corintiano Chicão. A mocinha que atende no balcão até faz uma gracinha:
– Huuum, tá cheiroso o moço hoje…
O jogo tava movimentado, o Fluminense cresceu na partida e teve algumas chances de gol, quer dizer, até fizeram um gol. Rodriguinho marcou mas, segundo o bandeira, estava impedido. Não estava, o que foi suficiente pra todo mundo falar que o Todo Poderoso só ganha com a ajuda da arbitragem. Pura bobagem, os juízes são tão incompetentes que erram pra todo mundo, como verificou-se no segundo tempo.
Pois é, vamos a ele: o Fluminense voltou melhor, até obrigou Felipe a fazer um pênalti em Fred, que estava impedido, anulando o lance. Aí o Mano colocou Tcheco e Defederico na equipe, nos lugares de Jucilei e Dentinho. Era uma tentativa de dar maior posse de bola ao time, são dois jogadores que prendem muito bem ela nos pés. O Defederico é gênio e vai ser melhor do mundo, anotem aí. Provou isso mais tarde, quando foi derrubado na área pelo Gum, o zagueiro de nome insondável. Só que o juiz pisou na bola: não deu o pênalti e ainda amarelou o argentino, acusado de fazer simulação. Quem tinha de ser expulso de campo era o juiz, que papelão.
Aí foi segurar o resultado até o final, coisa de time dirigido pelo Mano. Haja sufoco! Mas conseguimos e, mesmo com a equipe não jogando bem, fizemos mais três pontos e continuamos com 100% de aproveitamento. E claro, a liderança do campeonato. Tá valendo.

Café com Leite: Como eu gosto dos domingos

Texto: Beto Almeida
Foto: Ricardo Rímoli (para o Lancenet!)

E vai lá que o Timão foi pro Sul ganhar mais 3 pontos e, de quebra, a liderança isolada do Brasileirão, com 100% de aproveitamento. Foi, viu e venceu: todo mundo falava que o Grêmio não perdia no Olímpico, coisa que nem o timinho da moda conseguiu, patavinas, quando o Todo Poderoso tá com vontade de jogar bola, sai de baixo, que ninguém segura.
E o jogo começou assim, com o Corinthians partindo pra cima, que gaúcho só sabe fazer churrasco. Não demorou pra essa pressão dar resultado, e aos 5 minutos Ralf fez de cabeça numa cobrança de escanteio realizada por Dentinho. A gente sabe que alguma coisa tá mudando no Parque São Jorge quando até o Ralf faz gol: o Mano esqueceu aquele esquema zé-mané que ele inventou e voltou a jogar com três atacantes, sem abrir mão de usar três volantes (Ralf, Jucilei e Elias), claro. É a escola Dunga da obviedade fazendo sucesso. No caso, o sacado foi o meia Danilo, que deu lugar para Jorge Henrique, que é muito mais rápido e marcador.
Depois do gol o time relaxou e o Grêmio passou a ter mais posse de bola. Só que não fez nada com ela, então fica assim o resumo do primeiro tempo. Bem, melhor que ter de assistir o jogo do Palmeiras, né?
No segundo tempo o Grêmio voltou com Jonas no lugar de Douglas, que devia estar arrependido de deixar o Timão pra embarcar naquela barca furada. O time sulista ganhou mais mobilidade, porém permitindo contra-ataques feitos com velocidade pelo time alvi negro. E num deles, o matador Souza fez o segundo gol do time paulista, aproveitando com classe uma falha da zaga gaúcha. Deve ter baixado o Cabloco Ronaldo nele.
Pra variar o Mano resolveu dar uma força pro adversário e colocou Danilo no lugar do Jorge Henrique. Porra, Mano! Aí, não… O baixinho não é o mesmo do ano passado, mas corre, apóia e marca melhor que qualquer um que foi craque no tricolixo. Acabou que o Corinthians viu sua vantagem diminuir aos 30 minutos, com Maylson. Aí foi segurar o placar até o final, tarefa não tão difícil. Corinthians 2 x 1 Grêmio, beijos e abraços e mais 3 pontinhos, com a liderança assegurada.
E, como se não bastasse, as gazelas voltaram a me fazer sorrir: perderam pro Botafogo, hahahahaha… Velhos hábitos não mudam. O domingo foi bom.

Som na caixa, DJ!

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Da paixão

Finda a ressaca da eliminação do Todo Poderoso na Copa Libertadores da América (torneio meia-boca em que só fomos desclassificados porque não avisaram que o primeiro jogo com o time da calculadora – cuja torcida só faz número – ia ser uma partida de pólo-aquático) é hora de reavaliar todo o planejamento feito até agora para o ano do Centenário.
Vencer o Brasileirão tornou-se uma obrigação: nossa única oportunidade de ganhar um título este ano. Começamos bem, vencendo o Atlético Paranaense e garantindo três pontos em casa. Mas o adversário perdeu pro Palmeiras recentemente, ou seja, trata-se duma galinha morta. Assisti ao jogo e vi que o time ainda continua burocrático e previsível, sem a raça e a vontade de vencer que estamos habituados e esperamos ver de nossos jogadores.
Estreamos camisa nova, coisa boa para um recomeço. Mas o que fizeram com o nosso Manto Sagrado dá uma idéia da minha visão sobre o principal erro da atual gestão que comanda o clube: lotearam nossa camisa vendendo espaço publicitário até debaixo do sovaco. Transformaram nosso time numa máquina de ganhar dinheiro, muito lucrativa, mas fria e distante da massa fanática e doente pelo Timão.
Os preços abusivos cobrados pelos ingressos acabaram afastando os torcedores comuns das arquibancadas. O que antes era ato de fé passou a ser passeio turístico. A nossa vantagem é que a torcida corintiana é tão maravilhosa que mesmo esses turistas são corintianos, ou seja, uma multidão apaixonada que grita o jogo todo. Porém não criam o hábito de assistir vários certames no ano, e não tem coisa mais brochante que ver o Pacaembu com aqueles espaços em branco onde devia ter um monte de gente pulando e empurrando o time.
O elenco também tá inchado. Nada me tira da cabeça que algumas contratações foram feitas de forma equivocada. O Edu e o Marcelo Matos nem estão sendo aproveitados. Quais intenções motivaram essas contratações, então? Mistério… É óbvio que precisa haver uma reformulação, prometida pro 2º semestre. Mas o que me deixa puto é que a grana que o clube investiu nesses caras podia ser utilizada para trazer o Tevez de volta ao seu lugar de direito.
O Mano Menezes também pisou na bola gigante, montando um esquema de jogo de time gaúcho, que se pretende cerebral e eficiente. Traduzindo: segura na defesa e torce pro ataque fazer um gol. Só que ele não tá no São Paulo, aqui é Corinthians, mermão. A gente joga pra cima dos caras, com a faca nos dentes e dando show. Quem veste esta camisa não tem medo de enfrentar o adversário só porque tá na casa dele.
A verdade é que sou um romântico incorrigível. Há muito o futebol deixou de ser paixão pra se tornar um negócio. No mundo inteiro. Mas, uma coisa eu sei: se escrevo, o faço com paixão. Se amo uma mulher, o faço com paixão. Porque tudo que se faz com paixão, se torna mais gratificante e prazeroso. Não importa ganhar ou perder, mas há de se praticar a entrega apaixonada.

Café com Leite – Nem Freud Explica

Quinta-feira acordei triste, de ódio com o mundo. Se tivesse chefe, matava, se tivesse namorada, brigava, como não tenho nada disso, fui pra padaria tomar café. É claro que o assunto da galera era futebol, mais especificamente a eliminação do Corinthians da taça Libertadores da América. Assunto chato bagarai, e vamulá, esse torneio é bem chinfrim. Dá pra levar a sério um campeonato que teve como finalistas São Caetano e Olímpia do Paraguai? Não, né.
Meu estado mental era tão catastrófico que um monte de amigos que pensava torcer para times daqui da capital revelaram ser, na verdade, flamenguistas. Minha caixa-postal foi inundada de mensagens louvando a classificação dos rubro-negros, nunca vi ninguém comemorar uma derrota, mas sei lá, eu que não tava batendo bem da cachola mesmo. Decidi ir no psicólogo.
E tolá, deitadão no divã (só vou em psicólogo que tem divã, culpa dos filmes que assisti) e ele começa o inquérito:
– Como é seu nome?
– Beto Almeida, seu criado.
– Por que veio me procurar?
– Não sei, doutor. Acordei triste, deve ser porque sou um apaixonado incorrigível.
– Ah, que bom, você já tá dando o diagnóstico. E eu que tô ganhando pra te dizer isso…
– É sério, doutor. Minha paixão começou desde moleque, e já tenho 35 anos. Nunca traí, sempre fui fiel. Deve ter algo errado comigo.
– Desenvolva.
– Olha, no começo meu pai não aceitava o namoro. Ele insistia que eu me apaixonasse por outra, que ele gostava mais. “Ela não serve pra você! Não te criei pra isso!”. A minha mãe, ao contrário, dava a maior força. Sabecumé mãe, sempre apóia os filhos. E aí, ficou aquela divisão na família… Acabou que meu irmão mais velho passou a namorar a menina que meu pai gostava, eu com o meu amor. O tempo passou, o velho viu que não tinha jeito e acabou aceitando numa boa. Hoje vejo que devia ter seguido o conselho dele, sofro muito.
– Hum…
– Como em toda relação, temos nossos altos e baixos. Muitas alegrias, muitas tristezas. Às vezes me irrito com ela, digo que vou deixá-la, mas sempre volto. Porque os momentos felizes em muito superam os momentos tristes. Nem ligo de compartilhar ela com um monte de gente. Até sinto orgulho disso…
– Interessante…
– Ela é tão incrível que ninguém fica indiferente diante da sua presença. Ou a amam, ou a odeiam. Nunca vi nada parecido, é coisa de pele mesmo. E esse ano é especial, ela faz 100 anos, queremos fazer uma grande festa. Mas ela não ta colaborando pra isso acontecer, não pensa no meu coração, a ingrata.
– Rapaz, já sei qual é sua doença. Você é corintiano, isso não tem cura. Também sofro desse mal, e te digo que é melhor que pegar uma gripe. Vou te receitar uma injeção de ânimo e sugiro que fique sem conversar sobre futebol por alguns dias. Vai passar.
– Brigado, doutor.
Saí do consultório aliviado, mas com pressa. Ainda tinha de passar no cardiologista pra fazer a manutenção mensal. Corintiano sofre, meu amigo.